INTRODUÇÃO: As infecções por Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) são comumente descritas em indivíduos com fibrose cística (FC) com doença avançada e histórico de internações frequentes, mas não se sabe ao certo seu papel entre lactentes e préescolares com FC, e o uso de protocolos clínicos de erradicação do MRSA não está totalmente estabelecido em nossa Unidade.
OBJETIVO: O objetivo deste estudo foi comparar desfechos clínicos, funcionais e radiológicos entre pacientes com isolamento de MRSA e aqueles sem isolamento do patógeno nos primeiros 5 anos de vida.
METODOLOGIA: Estudo de coorte retrospectivo que avaliou pacientes com FC acompanhados regularmente no ambulatório da Instituição. Foram utilizados dados contidos na plataforma do REBRAFC (valores de cloreto no suor, função pulmonar entre 6 e 7 anos de idade, antropometria na primeira consulta, aos 12 meses de idade e 5 anos de idade), juntamente com dados de prontuários eletrônicos dos pacientes (exacerbações e uso de antimicrobianos, imagens tomográficas). As imagens tomográficas foram analisadas por meio do software PRAGMA-CF. As variáveis qualitativas foram resumidas em frequências absolutas e relativas. As quantitativas foram descritas em médias, desviospadrão, quartis, valores mínimo e máximo. A análise estatística foi realizada com os softwares SPSS versão 21, R versão 4.2.1 e Jamovi versão 2.2. Foi adotado um nível de significância de 5%.
RESULTADOS: Foram incluídos 32 pacientes no grupo MRSA (MRSA identificado antes dos 5 anos de idade) e 49 pacientes no grupo controle (sem isolamento de MRSA antes dos 5 anos de idade). Não houve diferença estatística quanto à frequência da variante F508del entre os grupos. Os pacientes do grupo MRSA apresentaram maior média de cloreto no teste de suor (p=0,004), maior mediana do número de cursos de antibióticos até os 5 anos de idade (p=0,035) e maior número mediano de dias de antibiótico nesse período (p=0,013). Não houve diferença significante quanto ao número ou total de dias de admissões hospitalares entre os grupos. A análise da idade do primeiro isolamento para P. aeruginosa também não demonstrou diferença estatística entre os grupos. Não foram encontradas diferenças significantes entre os grupos com relação às medidas de antropometria ou espirometria. Alterações tomográficas como bronquiectasias e impactação mucóide foram encontradas com maior frequência no grupo MRSA, e os pacientes do grupo controle apresentaram maior percentual de áreas normais ao exame (p=0,007).
CONCLUSÕES: Identificação do MRSA antes dos 5 anos de idade foi associada a maior frequência de exacerbações e uso de antibioticoterapia oral, mas não admissões hospitalares. Alterações estruturais pulmonares foram evidenciadas em frequência significantemente maior entre os indivíduos com MRSA. Esses resultados reforçam a importância desse agente infeccioso como marcador de mau prognóstico para doença pulmonar precoce em pessoas com FC.