No primeiro semestre do ano de 2017, testemunhamos uma crescente onda de violência se abatendo sobre terreiros de candomblé por todo o Brasil, mais ainda em Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense, na periferia do Rio de Janeiro. Os autodenominados traficantes de Cristo, cientes da impunidade, invadiram, depredaram terreiros e agrediram sacerdotes e sacerdotisas em suas comunidades tradicionais de matrizes africanas. Analisando fatores históricos – pois que esses fatos sempre estiveram presentes nos cotidianos dos cultos afro-brasileiros, a trajetória do racismo religioso e o crescimento das igrejas neopentecostais em todo país, refletimos sobre essa violência e suas implicações nos contextos políticos e culturais da atual conjuntura. De acordo com as narrativas que levam à demonização das religiões de matriz africana, onde se prega que "a Umbanda, Quimbanda, Candomblé e o espiritismo de um modo geral, são os principais canais de atuação dos demônios, principalmente em nossa pátria" (Macedo, 1987, p. 113), presenciamos um projeto de poder político-institucional que viola direitos humanos e constitucionais, além de estarem alinhados a setores conservadores e obscurantistas da sociedade.
In the first half of 2017, we witnessed a growing wave of violence involving candomblé earthquakes throughout Brazil, especially in Nova Iguaçu, a city in the Baixada Fluminense, on the outskirts of Rio de Janeiro. The self-styled Christ-traffickers, conscious of impunity, invaded, destroyed terreiros and priests and priestesses attacked in their traditional African matrix communities. Analyzing the historical factors - since these facts have always been present in the daily life of Afro-Brazilian cults - the trajectory of religious racism and the growth of the neo-Pentecostal churches in all countries, we reflect on this violence and its implications on politics and contexts of the current conjuncture. According to the narratives that have led to the demonization of African religions, where it is preached that "Umbanda, Quimbanda, Candomblé and spiritism in general are the main channels for the performance of demons, especially in our homeland" (Macedo, 1987, p. 113) a project of political-institutional power that violates human and constitutional rights, in addition to being aligned with conservative and obscurantist sectors of society.