O presente artigo se refere a etnografia realizada em uma clÃnica de psicanálise
lacaniana, e visa analisar de que modo esta cria dispositivos terapêuticos de produção e controle
das emoções através de uma “dimensão do segredoâ€, instituÃda na fala dos analisantes . Ao
considerar os sofrimentos como decorrente da impossibilidade moral de realização e expressão
de um desejo recalcado, a psicanálise acaba construindo um conteúdo secreto da vida dos
analisantes com o poder tanto de causar a doença/sofrimento, quanto a cura. A clÃnica
psicanalÃtica é aqui considerada como espaço para observação de contextos em que os afetos são
produzidos, significados e normatizados por processos micro-polÃticos da vida cotidiana.
Partindo de uma análise crÃtica da concepção de sexualidade operada pelo saber psicanalÃtico,
vemos de que modo a terapêutica herda seus preceitos epistemológicos de tradições clássicas do
pensamento cristão e do saber psiquiátrico. O artigo também mostra à relação entre o caráter
regulador dos modelos terapêuticos e a produção da pessoa engendrada por estes.
This article refers to ethnography of the Lacanian clinic of psychoanalysis, and aims
to examine how this creates therapeutic dispositive of production and control of the emotions
through a “secret dimensionâ€, established in the speech of the analysands. In considering the
suffering as a result of the moral impossibility to achievement and expression of a repressed
desire, psychoanalyses build a secret content in the life of the analysands, with the power to
cause both the disease and the healing. The psychoanalytic clinic is regarded here as a space for
observation the context in which emotions are produced, understand and regulated by micropolitical
process of daily life. From a critical analysis of the conception of sexuality operated by
the psychoanalyses knowledge, we see how the therapy inherits its epistemological precepts
from classical traditions of Christian thoughts and psychiatric knowledge. The article also
shows the relation between the regulatory character of therapeutics models and the production
of the person engendered by it.