A diversidade da vida nos territórios amazônicos: Onde a figura mítica da cobra se multiplica em diferentes sentidos de mundo(s)

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ISSN: 2674-5968
Editor Chefe: Nedy Bianca Medeiros de Albuquerque
Início Publicação: 31/12/2018
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Ciências Humanas

A diversidade da vida nos territórios amazônicos: Onde a figura mítica da cobra se multiplica em diferentes sentidos de mundo(s)

Ano: 2023 | Volume: 6 | Número: 1
Autores: P. D. dos Santos
Autor Correspondente: P. D. dos Santos | [email protected]

Palavras-chave: biodiversidade, cobra, mitos de origem, psicologia indígena, territórios amazônicos

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O artigo reúne alguns mitos de origem de diferentes tradições culturais que coexistem nos territórios amazônicos, em um esforço arqueológico que tem como objetivo amplificar a visibilidade das narrativas míticas enquanto potências criativas que manifestam a diversidade cultural que permeia a biodiversidade dos territórios amazônicos. A riqueza da biodiversidade amazônica é mundialmente valorizada, no entanto, pouco se reconhece que é resultado do modo de ser, pensar e agir no mundo dos diversos povos originários que coabitam e compõem os territórios amazônicos (NEVES, 2020). Tomando como base metodológicaanoção deMultiplicação Dialógica (GUIMARÃES, 2022; 2021;2020;2017) que aponta paraprincípiosdeuma Psicologia Indígenaimplicada com a abertura para a diversidade, partimos da figura mitológica da cobra enquanto critério de recorte, operando uma multiplicação de sentidos desde diferentes perspectivas culturais que cada mito de origem manifesta. O trabalhoexplicita o contraste entre a perspectiva dos missionários e colonizadores com os povos originários e afro-diaspóricos. A figura mitológica da cobra é demonizada no mito bíblico do Gênesisenquantoorigem do mal, pecado e traição, ao passo que, por sua vez, nos diferentes mitos de origem indígenas e afro-diaspóricos, aparecem outros sentidos possíveis, exaltando potências criativas e transformadoras, associada ao arco-íris que une céu e terra, a capacidade de trânsito entre diferentes pólos, bem como em rituais de cura (LINDOSO, 2007), associada tambémà Ayahuascae a arte feminina do Kene, em seu potencial transformador de cura e percepção visionária (BELAUNDE, 2013; LAGROU, 2013); bem como à própria origem da vida em sua diversidade e dos rios que entrecortam os territórios amazônicos (PÃRÕKUMU & KËHÍRI, 1995; PACHECO, 2009).



Resumo Inglês:

The article brings together some origin myths from different cultural traditions that coexist in Amazonian territories, in an archaeological effort that aims to show the potency of mythical narratives as manifestation of cultural diversity that permeates biodiversity of Amazonian territories. The richness of Amazonian biodiversity is globally valued, however, it is hardly recognized that it is the result of the way of being, thinking and acting in the world of various indigenous peoples that cohabit and compose Amazonian territories (NEVES, 2020). Taking as methodological basis the notion of Dialogical Multiplication (GUIMARÃES, 2022; 2021; 2020; 2017) that points to principles of an Indigenous Psychology implicated with openness to diversity, we start from the mythological figure of the snake as a cutout criterion, operating a multiplication of meanings from different cultural perspectives that each origin myth manifests. The paperhighlightsthe contrast between missionary and colonizers' perspectives with the indigenous and Afro-Brazilian peoples. The mythological figure of the snake is demonized in biblical myth of Genesis as the origin of evil, sin and betrayal, while in different indigenous and Afro-Brazilian origin myths, other possible meanings appear,exalting creative and transforming potencies, associated with the rainbow that unites sky and earth in its ability of transit between different poles, as well as in healing rituals (LINDOSO, 2007), also associated with Ayahuasca and female art of Kene, inits transformative potential for healing and visionary perception (BELAUNDE, 2013; LAGROU, 2013); and to the very origin of life in its diversity and of the rivers that intercut Amazonian territories (PÃRÕKUMU & KËHÍRI, 1995; PACHECO, 2009).