Resumo Português:
A Crítica da Razão Pura [1781; 1788] é, na avaliação do próprio Kant, uma longa reflexão sobre uma única questão: “Ora o verdadeiro problema da razão pura esta contido na seguinte questão: como são possíveis os juízos sintéticos a priori” (KrV, B 19). A questão “como é possível o conhecimento sintético a priori” é a questão transcendental: transcendental não significa a origem do conhecimento na mera razão, mas a identificação dessa origem no momento em que é constituída uma relação à experiência. A carta de Kant a Marcus Herz, de 21 de fevereiro de 1772, que tentamos explicitar neste texto, é um documento importante para compreender a gênese da questão transcendental. A filosofia transcendental, ao ocupar o lugar da metaphysica generalis, nada mais é para Kant do que a solução “sistematicamente apresentada e desenvolvida” do problema da razão pura, e ele pode então afirmar que “se é necessária uma ciência inteira (...), uma ciência nela mesma inteiramente nova, para responder a uma única questão satisfatoriamente”, então “não é de admirar que essa solução ocasiona fadiga, dificuldades e até mesmo uma certa obscuridade.” (Prolegomena, § 5, Ak IV, p. 279).
Resumo Inglês:
The Critique of Pure Reason (CPR), at least by Kant’s own reckoning, is an extended reflection on a single question: “Now the real problem of pure reason is contained in the question: how are synthetic a priori judgements possible?” (CPR B19). The question “how is synthetic a priori cognition possible?” is the transcendental question. Kant’s famous 1772 letter to Marcus Herz – a letter this paper aims to explicate – already contains an outline of the first Critique and is quite important if we want to understand the genesis of the transcendental question. For Kant, transcendental philosophy, “which necessarily precedes all metaphysics”, is nothing but the complete solution, “in systematical order and completeness”, of the problem of pure reason, and he can then say that “it is not surprising that when a whole science (...), in itself quite new, is required to answer a – single question satisfactorily, we should find the answer troublesome and difficult, nay even shrouded in obscurity.” (Prolegomena, § 5, Ak IV, p. 279).