Nesse artigo proponho analisar as similitudes estéticas do chamado Novo Cinema Argentino dos anos 90 (consagrado ao longo da crise de 2001), e o neorrealismo italiano do pós-guerra. Ambas as manifestações estéticas surgiram de uma intensa transformação social que propiciou a origem das suas expressões cinematográficas realistas, através das quais os cineastas buscavam se reconhecer ante o desamparo e a desolação da sua própria realidade: a Itália, destruÃda pelo fascismo e pela guerra e a Argentina, abalada pela ditadura militar e pelas polÃticas do neoliberalismo selvagem que a levaram a passar por uma das crises econômicas e polÃticas mais profundas da sua história. Os filmes destas vertentes estéticas afloraram das ruÃnas do seu tempo criando um espaço de distanciamento cultural com as representações do passado. Precisaram conceber suas experimentações simbólicas na emancipação do presente, e narrar suas adversidades de forma realista, para contribuir com a reconciliação de uma identidade nacional que precisava avançar sobre a sua tragédia, ou ao menos compreendê-la.