Este artigo examina criticamente os fundamentos fenomenológicos daquilo que podemos chamar de “paradigma da espacialidade” no estudo dos videogames – o projeto de se utilizar metáforas e terminologias espaciais para compreender a atividade de jogo. Apoiando-me na tradição (pós)fenomenológica, argumento que, embora essa terminologia seja útil para projetos analíticos que busquem elucidar a estrutura e forma do artefato de jogo, bem como os processos que facilitam, noções espaciais não necessariamente se adequam ao aspecto de primeira-pessoa que constitui a experiência de se jogar um videogame – especialmente nos casos de jogos que não se sustentam em locomoção e propriocepção simuladas em espaços tridimensionais. Além disso, debato que as diferenças entre jogos para um jogador e jogos multiplayer – ou seja, que jogos para um jogador podem ser descritos, usando o enquadramento de relações de intencionalidade de Ihde, como situados em “relações de alteridade”, e jogos multiplayer em “relações de mediação” – complicam ainda mais a questão da espacialidade nos videogames. Dadas essas observações, sugiro que, se noções espaciais parecem problemáticas para a descrição da experiência em primeira-pessoa de se jogar videogames para um jogador, a noção de ‘mundo de jogo’ parece mais precisa para designar aquilo com o que os jogadores se envolvem.
In this paper I will critically examine the phenomenological underpinnings of what we might call the ‘spatiality paradigm’ in computer game studies – the project of using spatial metaphors and terminology to understand computer game play. Drawing on the (post-)phenomenological tradition, I argue that while this terminology is useful foranalytic projects seeking to shed light on the structure and form of the game artifact and the processes it facilitates, spatial notions do not necessarily resonate with the first-person experience of computer game play, especially in cases of playing games of genres which do not rely on simulated locomotion and proprioception in threedimensionally modeled space. Furthermore, I argue that the differences between single-player and multi-player games – namely that single-player games can be described, using Ihde’s framework of intentionality relations, as situating in ‘alterity relations’ and multi-player games in ‘relations of mediation’ – further complicate the issue of spatiality in computer games. Given these observations, I suggest that whereas the spatial notions appear problematic for the purpose of first-person description of the experience of playing single-player computer games, the notion of ‘game world’ seems more accurate a description of that with which the players are engaged with.