A busca pela poesia que escapa à escrita, tema de tantos poemas de Carlos Drummond de Andrade, revela não ser apenas um tema transversal de sua obra, mas o princípio de funcionamento na mesma, que se cria labirinticamente a partir da reflexão sobre o caos moderno. Sua poética, portanto, não é uma lírica do cotidiano, que retira do mais ordinário acontecimento a poesia da vida, como a de Manuel Bandeira, ela vive da incompreensão e da aparente insolubilidade do presente caótico e desumano. A partir da análise feita por Antonio Candido em “Inquietudes na Poesia de Drummond” e Davi Arrigucci Júnior em Coração Partido, vemos como a obra do poeta se movimenta entre os impasses da própria literatura no mundo moderno. Se é a expressão da sua incompreensão e perplexidade diante dos acontecimentos, é também uma preocupação de responder ao tempo presente, como expresso por Mário de Andrade em “O movimento modernista”. É, então, uma lírica que se cria tal qual o Áporo, debatendo-se entre impasses, fazendo do bloqueio seu princípio poético e é na insolubilidade, na ausência de qualquer esperança que o inseto se metamorfoseia em flor e o caos se faz poesia.
The pursuit of poetry that escapes writing, Carlos Drummond de Andrade’s motif of many poems, discloses not only a transversal theme of his work, but also its own engine, which works by means of refl ection on the modern chaos. Therefore, his poetics is not just about a day-to-day lyric, which takes out poetry from ordinary life events, like Manuel Bandeira’s poems, it lives by incomprehension and the apparent insolubility of chaotic and inhumane of his period. Considering Antonio Candido analysis in “Inquietudes na Poesia de Drummond” and Davi Arrigucci Júnior in Coração Partido, we realize how the poet’s work oscillates between the impasses of literature itself in the modern world. If it is the expression of his incomprehension and perplexity in the face of events, it is also a concern to respond to the present time, according to Mário de Andrade in “Movimento Modernista”. It is a kind of lyric just like the poem “Áporo”, convulsing between the impasses, that hurdles its poetic principle. And is in in the insolubility, in the absence of any hope that the insect metamorphoses itself into a fl ower and poetry arises from chaos.