A produção artística do Nordeste posterior ao advento do Modernismo brasileiro, quando analisada, permite ao seu estudioso postular para essa região a hipótese de um conceito de modernidade bastante diverso daquele apresentado pelo restante da arte moderna brasileira. O Nordeste, enquanto região mais pobre do Brasil, se encontra numa espécie de periferia econômica e cultural que, ao longo do tempo, foi retratada pelos textos artísticos, acadêmicos e jornalísticos através de estereótipos e discursos preconceituosos que o reduziram ao “lugar do atraso”. A partir da obra do jovem rapper cearense RAPadura, o presente artigo pretende analisar como as canções de seu EP Fita embolada do engenho–Rapadura na boca do povo, de 2010, (re)elaboram o discurso da tradição, historicamente construído para caracterizar a cultura nordestina e o afina com o discurso do protesto e da ruptura, inerente ao gênero musical rap, contrapondo-se, assim, às visões reducionistas e preconceituosas sobre o Nordeste, ao mesmo tempo que reafirma e valoriza as tradições e práticas que enriquecem e definem seu povo.
The artistic production of the Northeast after the advent of Brazilian Modernism, when analyzed, allows its student to postulate for this region the hypothesis of a concept of modernity quite different from that presented by the rest of modern Brazilian art. The Northeast, as Brazil's poorest region, is in a kind of economic and cultural periphery that, over time, was portrayed by artistic, academic and journalistic texts through stereotypes and prejudiced discourses that reduced it to the "place of backwardness" . Based on the work of the young rapper from RAPadura of Ceará State, the present article intends to analyze how the songs of his EP Fita embolada do engenho–Rapadura na boca do povo, 2010, (re) elaborate the discourse of tradition, historically constructed to characterize the Northeastern culture and discourse of protest and rupture, inherent in the musical genre rap, thus opposing the reductionist and prejudiced visions of the Northeast, while reaffirming and valuing the traditions and practices that enrich and define its people.