A sociologia de E. Durkheim, baseada na busca da coesão e do consenso como formas de integração e manutenção da ordem social, é ainda um instrumento para entendimento da sociedade moderna - caracterizada pelo individualismo, a volúpia de desejos e a insaciedade, e cujos efeitos poderiam ser mitigados pela sedimentação moral. Entretanto, tais condições são inerentes ao capitalismo moderno e funcionais para a ordem econômica; assim, segue-se que os imperativos morais de manutenção da ordem social entram em conflito com as condições econômico-sociais (normais) estabelecidas. Paradoxalmente, a manutenção dessa ordem demanda uma mudança social para dirimir os efeitos do individualismo e da voracidade de desejos/interesses, o que releva como a visão durkheimiana prescinde e ressente-se de uma construção teórica que considere a sociedade como algo conflituoso. Do mesmo modo, a sociologia, erigida à condição de ciência por excelência da moralidade e da integração social, é vista, também de modo paradoxal, como fundamento da construção moral e, também, isenta de julgamentos de valor. Mas como poderia a sociologia, ao final, embasar as formas morais sem se conspurcar com a seleção e eleição de valores? Somente por meio da identificação entre a integração social e o bem-estar geral.