Partindo do termo ―humanismo‖, que pode ser entendido em sentido lato como a valorização do homem e/ou da condição humana, o objetivo deste trabalho é analisar a maneira como Eça de Queirós e Miguel Torga afirmam a situação do homem português sem se restringirem aos estreitos limites do nacionalismo. Nesse sentido, vislumbrou-se a possibilidade de revelar algumas características estéticas e teóricas dos contos de Eça e de Torga por meio das quais se forma um conceito identitário, que ultrapassa o instinto nacional para se tornar universal. Em outras palavras, os dois autores problematizam o caráter existencial do ser humano a partir do indivíduo português e expandem os preceitos filosóficos e políticos com que estiveram comprometidos nos séculos XIX e XX, respectivamente. Ao cotejar os contos ―O Tesouro‖, de Eça e ―O Sésamo‖, de Torga, em cujos enredos há a tradição das lendas medievais, percebemos os traços das perspectivas socioculturais que cada um dos dois lusos imprime ao processo de criação literária, sendo o ―humanismo‖, elemento contido no cerne das obras, um importante ponto para a interpretação de dois dos nomes mais emblemáticos da Literatura Portuguesa, que mesmo quando representam o habitante local, alcançam significação para além dos limites regionais.