O artigo propõe uma releitura da noção de sociedade contra o Estado, de PierreClastres, a partir da análise de algumas dinâmicas observadas na vida polÃtica dos Aweti, povo tupi do Alto Xingu (MT). A
história de uma eleição municipal na qual concorreram ao cargo de vereador alguns candidatos ndÃgenas, bem como a saga de um chefe aweti “nomeado†e “deposto†num intervalo de quinze anos, servem de ponto de partida para a descrição de aspectos centrais da chefia xinguana, que dizem respeito a como se faz um chefe, o que ele faz, e como pode ser desfeito. Num primeiro momento, é problematizada a questão da transmissão hereditária de posto ou status , aspecto que tem sido usado como indicativo de que o Alto Xingu apresenta uma estrutura polÃtica que poderia ter evoluÃdo para formas “complexas†(internamente diferenciada em termos de classes), fato que invalidaria a tese de Clastres sobre uma lógica indÃgena anticentralização. Em seguida, são enfocados tantos o processo de constituição mútua entre um chefe e sua comunidade, quanto os mecanismos internos à chefia que marcariam o limite do poder de um lÃder
representativo. O argumento central do trabalho é que devemos seguir as oposições internas aos grupos locais – e não entre grupos locais, como por vezes insistia Clastres – para identificar o mecanismo
(ou um mecanismo)contra o Estado na vida polÃtica xinguana.