Este artigo pretende refletir sobre o campo cultural em situação de confinamento a partir da experiência portuguesa em tempo de Covid-19. O texto centra-se nos conceitos de campo cultural, estratégias e linguagem de adaptação, cultura de tradição seletiva e seleção cultural para enquadrar as disputas, as adaptações e os potenciais processos de seleção cultural que se evidenciaram no primeiro período do confinamento, em março de 2020. Metodologicamente, a pesquisa sustentou-se numa abordagem qualitativa através da realização de entrevistas exploratórias com atores culturais para propor um modelo de adaptação da produção cultural em tempo de crise. Os resultados evidenciam que o campo cultural se dividiu em três grandes “equipas”: a dos “bloqueados”, em que a seleção cultural foi forte e há perdas que precisam de ser identificadas; a dos “enculturados”, pouco afetada e em que a criação cultural se encultura no confinamento e no chamado “novo normal”; e a dos “adaptados” que utilizou adaptações estratégicas como o recurso ao digital (Instagram, YouTube, etc.) e a processos mistos (como eventos em formato live streaming), a infraestrutura urbana como infraestrutura cultural (varandas, fachadas, etc.), a novos formatos de eventos automobilizados (como o Drive In Musical), e a públicos produtores, que devemos interrogar se serão tendências de futuro.