Partindo da análise dos processos de expansão das formas de participação das mulheres no espaço público e da escolarização feminina na cidade do Rio de Janeiro das últimas décadas do século XIX, este artigo é fruto de uma investigação sobre o plebiscito realizado em 1906 pelo jornal de circulação diária, O Paiz, sobre a educação da mulher e os gêneros de trabalho que ela poderia exercer “sem decair”. Durante o mês de abril de 1906, cartas, supostamente escritas por leitores e leitoras, foram publicadas na coluna “Como deve ser educada a mulher”. A abordagem está centrada nas contribuições da história das mulheres com base na perspectiva da construção social das relações de gênero, flexionando-as no plural e conjugando-as a partir de uma perspectiva relacional. Verificou-se, pelos textos das cartas, a polissemia da expressão “emancipação da mulher” no período, sendo necessário atentar para os seus vários sentidos. O exercício do magistério é o ponto de consenso entre os participantes do plebiscito, tendo em vista a “tradição inventada” no século XIX da associação do ensino de crianças a uma suposta natureza feminina, uma construção que poucas participantes ousaram contestar nas cartas. O acesso à imprensa possibilitou a manifestação de alguns dos anseios quanto às posições ocupadas por mulheres naquela sociedade, sobretudo as letradas, que vislumbravam na educação a possibilidade de obter autonomia, reconhecimento e ascensão profissional.
Based on the analysis of the processes of expansion of women’s participation in public space and feminine schooling in the city of Rio de Janeiro during the last decades of the nineteenth century, this article is the result of an investigation on a plebiscite conducted in 1906 by the daily newspaper, O Paiz, about women’s education and the labor genres that they could perform “without decadence”. During the month of April, 1906, letters, allegedly written by readers, were published in the column “How Women Should Be Educated”. The approach focuses on the contributions of women’s history based on the perspective of social construction of gender relations, using them in plural form and from a relational perspective. The polysemy of the expression “emancipation of women” in the period was verified by the texts contained in the letters, and it was necessary to pay attention to their several meanings. The exercise of teaching is a point of consensus among participants in the plebiscite, considering the nineteenth-century “invented tradition” related to the association between teaching children and an alleged feminine nature, a construction that few participants dared to challenge in the letters. The access to the daily press made it possible to express some of the anxieties about the positions occupied by women in that society, particularly those who were literate and saw education as a possibility of obtaining autonomy, recognition and professional ascension.
