Nosso objetivo neste artigo é problematizar a fronteira entre a observação participante e a não participante nas
pesquisas organizacionais etnográficas, considerando que além de fluida ela nem sempre é controlável na prática
de pesquisa. Nesse sentido, a participação direta do pesquisador pode ser algo inevitável e ele pode passar de
mero observador, com pequeno grau de participação, a participante diligente das atividades exercidas pelos
pesquisados. Utilizaremos como exemplificação a experiência de campo de um dos autores em pesquisa de
cunho etnográfico realizada em uma escola de samba do grupo especial da cidade de São Paulo. Partindo das
ideias pós-humanistas, que assumem que o mundo social não se limita a interações humanas, mas coexiste com
elementos não-humanos, discutimos como o pesquisador, inicialmente observador não-participante, acabou
transformando-se em observador participante e membro ativo da organização estudada, por meio da mediação de
tais elementos. ConcluÃmos que os não-humanos possuem influência significativa na prática da pesquisa de
campo e podem gerar transformações em: (a) mecanismo de observação; (b) coleta de dados e (c) figura do
pesquisador. Essas transformações indicam que os pesquisadores da área de administração deveriam considerar
com mais atenção a participação desses elementos na prática da pesquisa.