Este artigo discute de que maneira o sujeito gnosiológico do conhecimento, ou observador, pode ser entendido por meio de duas perspectivas semióticas distintas: a do filósofo Charles Sanders Peirce e a do semioticista da Escola de Tártu-Moscou Iuri Lotman, bem como a correlação e o tensionamento entre ambas as abordagens. Em comum, os dois teóricos rompem com a concepção cartesiana acerca da relação dualista entre sujeito e objeto do conhecimento, ao situarem a ação exercida pela mediação no processo de construção do conhecimento. Peirce não privilegia a figura do observador em sua obra, porém, por meio da relação entre signo, objeto e interpretante, pode-se depreender, segundo nossa leitura, uma compreensão eminentemente lógica para a ideia de observador. Lotman, por sua vez, realiza uma série de alusões à figura do observador ao longo de seus escritos, cuja compreensão encontra-se diretamente relacionada à perspectiva epistemológica de estudo da cultura vinculada à semiosfera. Pelo diálogo entre os autores, ou, ainda, pela complementaridade epistemológica entre suas ideias, considerando as aproximações e distanciamentos entre eles, delimitamos os seguintes pontos de contato: a mediação sígnica presente no processo de construção do conhecimento; a constituição do observador em meio à semiose; a validação do saber e, por fim, a objetividade.
This article discusses how the gnosiological subject of knowledge, or the observer, can be understood through two different semiotic perspectives: the one by the philosopher Charles Sanders Peirce and the other by the semiotician of the School of Tartu-Moscow Yuri Lotman, as well as the correlation and the tension between both approaches. Both theorists share the rupture with the Cartesian conception about the dualistic relationship between the subject and the object ofknowledge by situating the mediation-exerted action in the process of knowledge construction. Peirce does not favor the observer’s figure in his work; however, according to our reading, an eminently logical understanding of the observer’s idea can be pointed through the relationship among sign, object and interpretant. On the other hand, Lotman makes a set of allusions to the observer’s figure throughout his writings, whose understanding is directly related to the epistemological perspective of studying culture linked to the semiosphere. Through the dialogue between the authors, or yet, through the epistemological complementarity between their ideas, considering the approximations and distances between them, we delimited the following contact points: the sign mediation present in the process of knowledge construction; the constitution of the observer in the midst of semiosis; the validation of knowledge and, finally, the objectivity.