O presente artigo visa discutir alguns dos conceitos propostos pelo filólogo alemão Erich Auerbach, com foco para sua obra Mimesis: a representação da realidade na literatura ocidental, de 1946, problematizando a hipótese do mesmo no que diz respeito à s relações entre literatura e realidade, mote através do qual se erige a citada obra. Partindo da exploração de alguns conceitos pertinentes à filosofia e à crÃtica literária do século XX, mostraremos, através da exposição de algumas passagens de Mimesis, especialmente o capÃtulo sobre Dom Quixote, que há, por parte de Auerbach, uma tentativa abertamente conservadora de tentar resgatar uma tradição cultural que, para a Europa, se havia perdido com o advento da 1ª e 2ª Guerras Mundiais. Sua tentativa é aquela que tenta ainda ratificar uma ideia de literatura que exista a serviço da representação da realidade, algo que será posto em cheque já a partir do século XIX, e de forma mais radical ao longo do XX. Portanto, demonstraremos o quão dissonante se apresenta a hipótese de Auerbach, em sua cruzada para retomar uma certa ordem que a arte já havia muito renegara.