Professora, posso escrever com as minhas palavras? O que parece um coro de alunos da Educação Básica também pode ser escutado nas aulas do Ensino Superior, em cursos de Licenciatura de Ciências Biológicas, nas disciplinas de estágios docentes. O que propicia este silenciamento na produção de nossos futuros docentes? Que questões estão envolvidas neste sentimento de desvalia da escrita de si? Partindo da interrogação inicial deste resumo, realizada por estudantes nas disciplinas finais do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas de duas universidades públicas (2005-2011) e do trabalho desenvolvido ao longo dos semestres, busco analisar que situações levam ao silenciamento na escrita de si, bem como à noção, dentro de um curso de formação, das palavras próprias (ou da própria cabeça) e dos autores em atividades de produção textual. Ao longo destes semestres, é possível perceber o quanto a ideia de formar-se como ato de transformação, de modificação de si, da constituição de si como sujeitos que pensam e agem em relação ao que aprenderam, não é clara aos estudantes. Ou seja, muitas vezes, ao afirmarem-se anulados pela impossibilidade de escrita com suas próprias palavras, os estudantes não identificam em si, em seu modo de lidar com as questões profissionais (como pesquisa de monografias ou produção textual para a regência) os traços de sua formação, ou os aprendizados das disciplinas (tanto de aulas, quanto leituras de texto). Além disso, tomam a escrita formal-acadêmica (e textos de divulgação científica para o público escolar) como neutra e impessoal, sem estabelecimento de vínculos com a cultura.