O ensaio “La poubelle agrééeâ€, de Italo Calvino, publicado em O caminho de San Giovanni, apresenta uma temática inusitada se pensarmos a obra do escritor em questão: a escrita como lixo. Discorrendo sobre o ato de jogar o lixo para fora, Calvino estabelece considerações sobre a relação entre consumo e descarte, apropriação e expropriação, de modo que o destino dos bens consumidos seria a multiplicação dos resÃduos expelidos. A proposta deste trabalho é, pois, refletir sobre a escrita como um desses resÃduos expelidos pelo corpo, considerando que o que resta da escrita é também lixo, é também dejeto deposto do corpo do autor. Para reiterar essa relação entre escrita e excreção, nos basearemos em Nancy para quem a escrita se excreve, lança-se para fora e se inscreve no corpo do leitor. Temos, então, o homem como produtor de escórias e, consequentemente, a arte como escória. Baseando-nos, sobretudo, em Agamben, Benjamin e Didi-Huberman, discorreremos sobre a possibilidade de a literatura escatológica – dessacralizada, desauratizada – firmar-se como uma espécie de contradispositivo perante a sociedade de controle através da profanação.