O artigo discute a crise do espaço público na cidade contemporânea,
expressa na proliferação de formas espaciais segregadoras, como shopping
centers, condomÃnios fechados e áreas requalificadas. O texto analisa o caso
do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, cuja construção teve como um
dos principais objetivos a recuperação do espaço público de Fortaleza. Tal
projeto apresentou resultados ambivalentes. Se, por um lado, seus espaços
abertos são utilizados por vários tipos de pessoas, a frequência aos museus
e espetáculos é restrita a pessoas de classe média ou alta, por conta do
limitado capital cultural da população de baixa renda. No entorno do CDMAC,
predominam usos lucrativos como bares, restaurantes e casas de shows. Mas
é conspÃcua a presença de grupos de jovens do lado de fora desses espaços,
promovendo a gratuidade do consumo de música e dança, e interagindo com
o comércio informal (e barato) de bebidas e comidas. Tais práticas fogem aos
usos previstos, expressando uma sociabilidade no sentido que Simmel atribui
ao termo: tratam-se de trocas afetivas endógenas, que ocorrem entre grupos
constituÃdos por pares. Como tal, a sociabilidade permite a convivência de
usos e contra-usos, os quais expressam lutas na e pela cidade.