ESPIRITUALIDADE SEM-RELIGIÃO: O CULTIVO DA QUALIDADE HUMANA

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ISSN: 2176-9389
Editor Chefe: Luiz Carlos Sureki
Início Publicação: 31/12/1973
Periodicidade: Quadrimestral
Área de Estudo: Filosofia

ESPIRITUALIDADE SEM-RELIGIÃO: O CULTIVO DA QUALIDADE HUMANA

Ano: 2020 | Volume: 47 | Número: 149
Autores: José Álvaro Campos Vieira, Flávio Senra
Autor Correspondente: José Álvaro Campos Vieira | [email protected]

Palavras-chave: Espiritualidade sem religião, Qualidade humana profunda, Marià Corbí

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O presente artigo reúne contribuições para o pensar sobre espiritualidades sem religião, não religiosas ou laicas. Por um lado, são abordados os sentidos de espiritualidades autônomas e independentes da crença, do corpo doutrinário e da organização comunitária representadas por instituições religiosas. Por outro lado, a reflexão versa sobre o cultivo da qualidade humana e da qualidade humana profunda a partir de uma concepção antropológica não-dual, segundo a qual o animal humano, como animal de fala, acessa a realidade e a modela como dimensão relativa às suas necessidades e como dimensão para além das suas necessidades. Ainda que nosso horizonte nos conduza a uma necessária superação dos termos religião e espiritualidade, considerados como fruto de projetos axiológicos não mais adequados a sociedades marcadas por um intenso processo de mudança constante, tais como as contemporâneas sociedades de conhecimento e de inovação, para o tratamento da questão, consideraremos ser adequado tratar alguns conceitos-chave de uma concepção tradicional sobre esses termos. Nesse sentido, procuramos apresentar, ainda que brevemente, alguma delimitação sobre esses termos em nosso trabalho. O objetivo principal, contudo, é problematizar a questão da espiritualidade sem religião como cultivo da qualidade humana à luz da teoria reconhecida como epistemologia axiológica, elaborada pelo pensador Marià Corbí. Questionamos o sentido de espiritualidade como decorrente da condição humana em sentido tradicional, a partir da consideração de que, fundamentalmente, o animal humano deva ser compreendido como um ser de linguagem. Como aponta a teoria corbiniana, o animal que fala, como ser necessitado, possui como mecanismo de sobrevivência atuar como um modelador da realidade e, nesse sentido, se processa o acesso não dual à dimensão absoluta do real (DA) e a dimensão relativa do real (DR). Nesse horizonte teórico-prático, entendemos por espiritualidade, [considerando-a especificamente como o cultivo da qualidade humana e da qualidade humana profunda], o processo decorrente de um projeto axiológico coletivo, que proporciona a realização da pessoa a partir do interesse incondicional pela realidade, do distanciamento e do silenciamento (IDS); cultivados como indagação livre, comunicação e serviço mútuo (ICS).­



Resumo Inglês:

This article gathers contributions to the understanding of spirituality without religion, either non-religious or secular. On the one hand, it addresses the significance of autonomous spiritualities that are independent from the beliefs, doctrinal body and community organization of religious institutions. On the other hand, it reflects on the cultivation of the human quality and the profound human quality, from a non-dual anthropological conception whereby the human animal, a talking animal, accesses reality and models it both as a dimension linked to needs and as one that goes beyond them. Our approach leads us to the necessity of overcoming the terms religion and spirituality, considered as the fruit of axiological projects no longer suitable for societies marked by an intense process of constant change, such as the contemporary knowledge societies and innovation societies. However, to deal with the issue, we consider appropriate to examine some key concepts from their traditional sense. Consequently, this study tries to present, though briefly, some of their delimitations. The main objective is to problematize the issue of spirituality without religion as a cultivation of human quality in light of the theory recog­nized as axiological epistemology, developed by the thinker Marià Corbí. We question the sense of spirituality as deriving from the human condition in its traditional sense, by considering that the human animal must fundamentally be understood as a being of language. As Corbí’s theory points out, the survival mechanism of the speaking animal, as a being in need, works as a shaper of reality, processing, therefore, the non-dual access to the absolute dimension of reality (AD) and the relative dimension of reality (RD). In this theoretical­-practical approach, we specifically understand spirituality as the cultivation of human quality - the profound human quality, the process resulting from a collective axiological project which provides the realization of the person from the unconditional interest in reality, as well as from distance and silence (IDS); cultivated as free inquiry, communication and mutual service (ICS).