Análises macrossociológicas contemporâneas associaram as configurações sociais do capitalismo globalizado a certa forma de sujeito corporificado, tributária das biotecnologias e afinada com a lógica de consumo. Contudo, etnografias de realidades subculturais específicas podem ilustrar formas alternativas de subjetivação corporificada. Fora da China e das comunidades diaspóricas de imigrantes, sujeitos urbanos pertencentes a contextos multiculturais globalizados têm se aproximado do universo das práticas e do modo de vida taoista. Reflito neste artigo sobre o potencial desta tradição, ressignificada em situações de transplante cultural, para fazer frente aos dilemas decorrentes da instabilidade das condições de vida e de produção de sentido característicos da experiência dos segmentos sociais mais diretamente afetados pelas transformações socioculturais do mundo contemporâneo. Por meio de uma verdadeira estética da existência, esta tradição proporia uma rota alternativa à produção corporificada de si oferecida pelo consumo e pelas biotecnologias. Analiso esta situação a partir de um caso brasileiro.
Contemporary macro-sociological analysis have associated the new social configurations of global capitalism to a certain form of embodied self, dependent upon biotechnologies and tuned to consumer’s culture. Nevertheless, ethnographies of specific sub-cultural realities may reveal alternative embodied subjectivities. Out-side China and Chinese diasporic communities, urban multicultural global subjects have been approaching the universe of Taoist bodily practices and life style. In this article I suggest that Taoist tradition, in contexts of cultural transplant, has the potential to face the existential dilemmas characteristic of the social experi-ence of those most affected by contemporary social and cultural transformations in globalized settings. By offering an aesthetic of existence, Taoism becomes another route for the production of embodied selves, which is an alternative to biotechnological consumer’s bodies. I base my analyses on the ethnography of a Taoist community in Brazil.