Este artigo tem por objetivo apresentar o resultado da pesquisa desenvolvida sobre o comportamento dos complementos indiretos de verbos tri argumentais, os bitransitivos, para a tradição gramatical. A partir disso, gerar discussões sobre a sua relevância e de que modo pode auxiliar no ensino de lÃngua portuguesa, considerando-se que a motivação inicial para essa pesquisa ocorreu durante o processo de ensino desses verbos. Essa motivação aconteceu diante da observação da dificuldade encontrada pelos alunos, já no ensino médio, em distinguir um verbo tri argumental (transitivo direto e indireto) de um bi argumental (transitivo simples)acompanhado de um adjunto; isso porque nem sempre é claro para o falante nativo que está estudando lÃngua portuguesa se o elemento que ocupa a posição canônica de complemento indireto é de fato complemento do verbo. Os alunos apresentavam diferentes julgamentos no tocante a quantidade de argumentos que o verbo possuÃa, demonstrando dúvidas em relação ao que a gramática normativa apresenta como um tri argumental (bitranstivo). Nessa proposta,mostramos que a intuição dos alunos era pertinente, já que esses verbos não se apresentam de maneira uniforme. Liz (2009, 2011), mostrou que é possÃvel identificar pelo menos duas classes de verbos tri argumentais. Para tanto, partiu-se da hipótese de que as preposições seriam as responsáveis pela diferença de comportamento dentro desta classe de verbos. Portanto, haveria reflexos diretos na sintaxe, acarretando derivações distintas. No tocante à metodologia empregada nesta pesquisa, contou-se com coleta de dados de entrevistas do projeto VARSUL,também com dados de aquisição de linguagem e com testes de introspecção aos moldes do modelo da Gramática Gerativa, quadro teórico que serviu de amparo para esse estudo. Espera-se,neste artigo, mostrar a importância de estabelecer a interface entre os estudos dos fenômenos da lÃngua pautados na hipótese inatista de aquisição de linguagem e o ensino, levando-se em conta que esse modelo teórico preocupa-se não apenas com a adequação descritiva, mas também com a adequação explicativa dos fenômenos linguÃsticos.