INTRODUÇÃO: Nos pacientes com fibrose cística (FC) existe uma relação direta entre o estado nutricional e função pulmonar, sendo frequente a necessidade de terapia nutricional enteral para manter a eutrofia. A gastrostomia (GT) permite aportes calóricos maiores e contínuos e é uma opção quando a via oral não é suficiente.
OBJETIVO: Avaliar a eficácia do uso da GT na melhora do estado nutricional e função pulmonar em pacientes pediátricos com FC.
METODOLOGIA: Estudo retrospectivo multicêntrico de pacientes pediátricos com FC que realizaram gastrostomia entre 2007 e 2021 em 7 centros de referência no atendimento a FC do Brasil. Através de revisão de prontuário foram levantadas as variáveis: sexo, idade, antecedentes de íleo meconial, idade do diagnóstico, presença de diabetes mellitus e doença hepática, uso de enzimas pancreáticas, mutação genética, colonização bacteriana, dias em uso de antibióticos e de hospitalização pré-pós GT, tempo médio entre a indicação e a colocação da GT. Os dados antropométricos: Z escore de peso, estatura, IMC e função pulmonar (VEF1), foram avaliados em 5 momentos: pré GT (12 e 6 meses antes), no momento da colocação e após procedimento (6 e 12 meses).
RESULTADOS: 42 pacientes foram incluídos no estudo. Mutações da classe 2 em ambos os alelos foram encontradas em 65% dos pacientes, 31% tinham a mutação deltaF508 em homozigose. e 85% em heterozigose .A idade mediana na colocação da GT foi de 10,1 anos (dp=68). No momento da GT, 50% dos pacientes encontravam-se com escore de IMC abaixo de -2 desvios-padrão (dp) para idade. O tempo médio de internação 12 meses pré GT e 12 meses pós GT apresentou uma diminuição significativa de 48 ± 7d com um intervalo de confiança de 95% de 35.96 a 64.91 para 30 ± 4d com um IC de 95% de 23.76 a 39.61 (p<0,05). O tempo médio de uso de antibióticos 12 meses antes da GT, foi de 65 ±9d em 19 pacientes com IC de 95% de 48.59 a 88.07) e de 46 ± 6d, (IC de 95% de 36.28 a 59.44),em 18 pacientes 12 meses pós GT. O Z escore do IMC diminuiu significativamente 6 meses antes da GT de -2,04 ± 1,6 para -2,2 ± 1,4 (p< 0,05), no entanto, após 6 e 12 meses da GT, houve um aumento neste parâmetro, -1,5 ± 1,4 e -1,5 ±1,6 (p<0,05) respectivamente. O VEF1 apresentou uma queda abrupta de 12 meses até 6 meses antes da GT de 63 ± 18% para 48 ±19% ( P< 0,05). A partir do momento da colocação da GT houve uma estabilização no VEF1, com 6,12 e 24 meses após (50 ±18% , 47±19% , 40 ±23% 43 ± 27%).
CONCLUSÃO: A colocação de GT diminui-o tempo de internação hospitalar nos 12 meses posteriores ao procedimento, assim como houve uma melhora significativa no escore z do IMC. Observamos um declínio marcado da função pulmonar prévio a colocação da GT com uma estabilização nos 6 e 12 meses após.