Evolução clínica de adolescentes com fibrose cística hospitalizados por Covid-19: relato de série de casos

Revista Brasília Médica

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ISSN: 2236-5117
Editor Chefe: Eduardo Freire Vasconcellos
Início Publicação: 01/09/1967
Periodicidade: Anual
Área de Estudo: Ciências da Saúde, Área de Estudo: Enfermagem, Área de Estudo: Medicina, Área de Estudo: Saúde coletiva

Evolução clínica de adolescentes com fibrose cística hospitalizados por Covid-19: relato de série de casos

Ano: 2023 | Volume: 60 | Número: Especial
Autores: Ana Caroline Ferreira Dutra Brito1, Isabela Dorneles de Faria2, Isadora Carvalho Trevizoli3, Silvana A. Jacarandá de Faria4, Sara Habka5, Glaciele Nascimento Xavier6, Flavia Fonseca Fernandes7, Luciana de Freitas Velloso Monte8
Autor Correspondente: na Caroline Ferreira Dutra Brito | [email protected]

Palavras-chave: fibrose cística, covid-19, sarscov-2, adolescente

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

INTRODUÇÃO: Há controvérsias sobre o impacto da COVID-19 nos indivíduos com fibrose cística (FC). Este trabalho se propõe a descrever o quadro agudo e desfecho de crianças e adolescentes com FC internados por COVID-19, bem como a evolução nos 6 a 12 meses subsequentes.

DESCRIÇÃO: Dos 70 indivíduos acompanhados em um Centro FC brasileiro entre 2020 e 2022, 5 (7,1%) apresentaram COVID-19 grave ou crítica, de acordo com os critérios da OMS, três do gênero feminino, média de idade de 17 anos (DP±0.9). Todos possuíam ao menos uma mutação genética grave e eram pancreatoinsuficientes. Quatro pacientes tinham doença pulmonar avançada, faziam uso de oxigenoterapia contínua, dois tinham Diabetes Relacionada à FC e um, sobrepeso. A mediana do escore de gravidade de Shwachman-Kulczycki dos sujeitos estudados era de 55 (30 a 80). Quatro indivíduos apresentavam, na espirometria, Volume Expiratório Forçado no 1o.seg (VEF1) menor que 40% (média 40,6%,DP±18,3). Nenhum era transplantado ou usava drogas imunossupressoras.

No quadro agudo, todos apresentaram sintomas gripais, evoluindo com piora do esforço respiratório (Síndrome Respiratória Aguda Grave), necessidade de oxigenoterapia adicional e hospitalização. Três foram encaminhados à UTI pela gravidade do quadro respiratório, um com ventilação mecânica invasiva. O tempo total de internação variou de 2 a 51 dias, média de 25,6 (±15,1) dias. Quatro pacientes tiveram diagnóstico de exacerbação pulmonar (EP) secundária, com necessidade de antibioticoterapia. Nessa coorte retrospectiva, não houve óbitos em até 12 meses de evolução. Entre 9 e 12 meses após o quadro agudo, a porcentagem do VEF1 reduziu em até 10 pontos percentuais em 2 casos, e aumentou em até 23 pontos nos 3 casos que iniciaram a terapia com moduladores (elexacaftor/tezacaftor/ivacaftor) nos meses subsequentes. Três indivíduos evoluíram com novos episódios de EP nos 6 meses subsequentes (1 a 3 eventos cada). Houve redução do índice de massa corporal na evolução de todos os casos em 6 meses, com recuperação posterior, exceto em um. Quanto à vacinação contra SARS-CoV-2, um caso teve a infecção previamente à disponibilização da vacina, outros 3 estavam em processo de vacinação (um tinha uma dose, 2 estavam com 2 doses) e um tinha três doses.

DISCUSSÃO E COMENTÁRIOS FINAIS: Dos 70 indivíduos com FC acompanhados no serviço, 5 precisaram ser hospitalizados por COVID-19 grave ou crítica, sem óbitos. Todos adolescentes, a maioria tinha FC em estágio moderado/grave. Apesar da hospitalização prolongada, a evolução em 6 a 12 meses foi considerada satisfatória, conforme alguns autores também demonstraram, porém em 3 casos houve o viés de iniciarem terapia tripla com ETI.

Nesta pequena casuística, a infecção pelo SARS-CoV-2 não parece ter tido impacto superior a outros patógenos respiratórios. Entretanto, a gravidade e morbidade dos casos está longe de ser desprezível, reforçando a necessidade de atenção para essa infecção e suas formas de prevenção em pessoas com FC.