O argumento desenvolvido ao longo deste ensaio consiste em defender que a filologia eÌ curadoria textual. Com efeito, “curar de†significa “administrar o patrimoÌ‚nio de outremâ€; ora, editar um texto eÌ uma atividade segundo a qual o filoÌlogo administra um patrimoÌ‚nio, ou seja, o texto que se tem em vista editar, de outrem, o respetivo autor; logo, o filoÌlogo eÌ um curador textual. Esta afirmação encerra, contudo, duas dificuldades que são abordadas ao longo deste estudo, e que podem ser expressas a partir das seguintes perguntas: Como se administra um patrimoÌ‚nio incorpoÌreo? Como administrar textos que se encontrem em situações semelhantes aÌ€s da maior parte dos textos que compõem a obra de Fernando Pessoa, que são incompletos por inacabamento e não por partes dos mesmos se terem perdido? Nestes casos, eÌ preciso entender que o filoÌlogo, não deixando de ser curador, acaba por ter que assumir uma posição de coautoria sui generis, visto que a edição/administração deste tipo de textos implica a tomada de decisões que tipicamente são feitas pelos autores de obras literaÌrias.
The argument presented throughout this essay is that philology is textual curatorship. “To curate†means “to administer someone else’s assetsâ€; to edit a text is an activity according to which the textual critic administers someone else’s text, which is that author’s asset; therefore, the textual critic is a textual curator. There are two difficulties which this assertion raises, which can be formulated as follows: how can an incorporeal asset be administered? How can one administer texts whose characteristics are similar to those which make up Fernando Pessoa’s work? These texts are incomplete because they were left unfinished, not because portions of them have been lost. When this occurs, it is necessary to understand that besides being a textual curator, the textual critic becomes a sui generis co-author as well, as the critic assumes the responsibility of making decisions which are typically made by authors of literary works.