Questões relativas aos fins de nosso agir encontram-se em três dimensões, a saber, a do querer, a do dever, e a do poder, e são propriamente limitadas umas às outras. Tomemos o tema de nosso curso, a filosofia política de Kant, perguntamo-nos como queremos viver uns com os outros em uma sociedade política, ou seja, perguntamos naturalmente por um fim que em princípio também precisamos poder alcançar. Logo, este fim não deve ser localizado fora de nossa realidade de vida determinada pelos princípios da lógica e pelas leis da natureza. Se não, ele seria uma mera ideia, uma teia do pensamento, uma quimera. Contudo, o querer não implica só um poder-querer factível. Se entendemos nossas questões normativamente, então igualmente questionamos se o que queremos também deveríamos querer: devemos viver como sujeitos políticos tanto quanto queremos viver com prazer? Esta questão soa num primeiro momento muito estranha. Mas, atendo-nos a ela com mais cuidado, faz sentido. Se avaliamos nosso querer factível por um parâmetro externo a ele, então desaparece a diferença entre o querer e o dever. A partir da perspectiva desse parâmetro considerado, julgamos se nosso querer é correto ou falso, bom ou ruim.