O artigo se apoia em dados marginais da história para reconstruir um problema etnológico: a classificação cultural de grupos indígenas mencionados nas fontes do século XVIII nas regiões dos atuais Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Essas sobras, garimpadas ao longo de uma vasta documentação, tal como ensina o paradigma indiciário, são reveladoras de alguns equívocos e distorções da antropologia e história indígena regional. A partir do reconhecimento de homologias entre essas sobras e sinais oriundos de outros domínios, como a arqueologia e a etnologia, o artigo problematiza e relativiza a filiação Tupi atribuída a alguns dos grupos mencionados nas fontes. Lidos à luz da etnologia contemporânea, os dados documentais ganham nova inteligibilidade e apresentam fortes indícios para uma revisão interpretativa de antigas versões.