A filosofia da geometria de Kant só pode ser adequadamente compreendida no contexto de duas características mais gerais de sua posição filosófica: sua dicotomia fundamental entre as duas faculdades cognitivas básicas da mente, sensibilidade e entendimento, e sua peculiar teoria do espaço como a “forma pura de nossa intuição sensível externa.” A concepção kantiana do espaço e do tempo como nossas formas puras de intuição sensível (externa e interna) é central para sua posição filosófica geral, que ele denomina idealismo “formal” ou “transcendental”. E, embora uma dicotomia fundamental entre as duas faculdades de sensação e intelecto preceda Kant por muitos séculos, sendo característica de todas as formas do racionalismo tradicional de Platão a Leibniz, a versão particular de Kant da dicotomia é inteiramente peculiar a ele. Pois, em nítido contraste com todas as formas de racionalismo tradicional, Kant localiza a sede principal do conhecimento matemático a priori na sensibilidade, e não no intelecto. Em particular, nossa forma pura da intuição sensível externa – o espaço – constitui a base fundamental de nosso conhecimento geométrico puro.