GUIMARÃES ROSA E A DEMARCAÇÃO MODERNA

Guavira Letras

Endereço:
Avenida Ranulpho Marques Leal, 3484 - Distrito Industrial II
Três Lagoas / MS
79613-000
Site: http://www.guaviraletras.ufms.br
Telefone: (67) 3509-3701
ISSN: 1980-1858
Editor Chefe: Kelcilene Grácia-Rodrigues
Início Publicação: 01/08/2005
Periodicidade: Trimestral

GUIMARÃES ROSA E A DEMARCAÇÃO MODERNA

Ano: 2014 | Volume: 10 | Número: 18
Autores: José Carlos Leite
Autor Correspondente: J. C. Leite | [email protected]

Palavras-chave: demarcação, dualidades, visão orgânica, medievo brasileiro, Guimarães Rosa

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O objetivo do texto é apresentar os indícios que sugerem que a prosa e a poética de G. Rosa beberam de um universo cultural no qual a demarcação moderna ainda não se fizera presente. Para tal intento, vale-se tanto de textos do próprio Guimarães Rosa como de seus comentadores. Constata-se que a cosmovisão do sertanejo, locus da inspiração rosiana, era demarcada mais por processos de um Brasil próximo ao medieval ou afro-ameríndio – e cuja visão de mundo era mais orgânica, processual – do que pela visão moderna que emerge no século VII e seguintes, na Europa. Tal visão alcança mais rapidamente o Brasil litorâneo (ou os poucos espaços urbanos do interior) do que o sertão retratado por Rosa. Neste irá ainda predominar, em pleno século XX, uma cosmovisão em que não se demarca o ser ou a realidade, e não estão presentes as dualidades típicas do pensamento ocidental moderno: homem e natureza (ou natureza e cultura), deus e diabo... Conclui-se indicando que crenças incompatíveis no contexto moderno estavam misturadas, compostas na cosmovisão sertaneja e que Rosa as capta em sua prosa. Em sua cosmovisão, até rios possuíam para além de duas margens.



Resumo Inglês:

The objective of this paper is to present evidence suggesting that the prose and poetry of Guimarães Rosa were inspired by a cultural universe in which modern demarcation is not yet present. For this purpose, it was used the texts written by Guimarães Rosa himself and also by his commentators. It appears that the cosmovision of the backcountry, locus of the Rosean inspiration, was marked more by processes from a medieval or African-Amerindian Brazil - in which the perception of the world was more organic, than the modern vision that emerges in the seventeenth century and after in Europe. Such insight reaches the coast of Brazil faster (or even the few urban spaces in the countryside) instead of the backcountry portrayed by Guimarães Rosa. This will still predominate in the twentieth century, a cosmovision in which the being and the reality are not marked. The typical dualities of Western modern thought are not present: man and nature (or nature and culture) God and the Devil... It is concluded that incompatible beliefs in the modern context were mixed, composed in the backcountry cosmovision in which is captured by Guimarães Rosa in his prose. In his cosmovision, even rivers had more than two banks.