Historicidade, gramaticalização e a semântica do nego no português brasileiro

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Editor Chefe: Kelcilene Grácia-Rodrigues
Início Publicação: 01/08/2005
Periodicidade: Trimestral

Historicidade, gramaticalização e a semântica do nego no português brasileiro

Ano: 2016 | Volume: 12 | Número: 22
Autores: Danniel Carvalho
Autor Correspondente: D. Carvalho | [email protected]

Palavras-chave: historicidade, gramaticalização, composicionalidade

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Dos legados da presença dos negros no Brasil e dos problemas sociais que muitos negros sofrem na contemporaneidade, a História Social, a Antropologia e a Sociologia têm-se ocupado há tempos. Entretanto, no terreno dos estudos linguísticos, os trabalhos que se voltam para a compreensão da língua não trazem muitas contribuições sobre as questões sociais, políticas e identitárias na construção das gramáticas da língua. Um exemplo disso é o aparente processo de gramaticalização sofrido pela palavra nego no português brasileiro que, em determinados contextos sintático-semânticos, passou da condição de nome à de pronome, que passa a ter duas leituras pronominais distintas: uma definida ou referencial, caracterizada por elementos sintáticos definidores (ex.: possessivos ou tempo verbal finito e marca pessoal); e outra indefinida. Entretanto, essa leitura indefinida do elemento pronominalizado nego não é tão genérica e despida de valor quanto a de outros pronomes da mesma natureza, tal como alguém, como é assumido na literatura linguística. Desta forma, o presente trabalho se dispõe: (a) a compreender a historicidade do item lexical nego no contexto da história social do português brasileiro e (b) a descrever as características semânticas deste elemento pronominal que foram adquiridas ou apagadas em seu processo de gramaticalização, comparando-o com seus pares indefinidos e elementos correspondentes em outras línguas, a fim de levantar o inventário de traços que o caracterizam.



Resumo Inglês:

From the legacy of the blacks presence in Brazil and the social problems many blacks suffer contemporaneously, Social History, Anthropology, and Sociology have been occupied a long ago. However, in the field of linguistic studies, works that turn to understand the language do not bring many contributions on the social, political and identity in the construction of language grammars. An instance of this is the apparent process of grammaticalization that the word nego (nigga) has undergone in Brazilian Portuguese. In some syntacticsemantic contexts, its condition as a noun has changed and it started to behave as a pronoun, which starts to show two distinct pronominal behaviors: a defined or referential one, characterized by definer syntactic elements (e.g.: possessives or finite verbal tense and person marking); and an indefinite one. Nevertheless, this indefinite reading of the pronominal element nego is not completely generic and divested from some values as other pronouns of the same nature, such as alguém (someone), as assumed in the linguistic literature. Thus, the aim of this work is twofold: (a) to understand the historicity of the lexical item nego in the social history context of Brazilian Portuguese; and (b) to characterize the acquired and/or erased semantic features of such pronominal element in its grammaticalization process, comparing it to its indefinite peers and akin elements in other languages, in order to survey the feature inventory that characterizes it.