Este artigo busca analisar o conto “Os desterrados”, do contista uruguaio Horacio Quiroga, através da aproximação do conceito de transculturação narrativa conforme Ortiz (2002) e, posteriormente, Rama (2001) com a Ecolinguística segundo Couto (2007), enfatizando a maneira pela qual, dentro do universo narrativo, as dimensões naturais, mentais e sociais dos personagens literários articulam-se com seu espaço e seu tempo, a selva missioneira da Argentina na virada do século XX. Para esta análise, também utilizaremos o conceito de “território” dentro de seu caráter polissêmico de “território cultural”, tomado de empréstimo da Geografia segundo Haesbaert. A conclusão destas aproximações é que o ideal do bom selvagem que vive em equilíbrio total com seu meio não tem espaço na América de Quiroga. A natureza, em suas obras, relaciona-se diretamente com o reino do inumano, dos instintos opostos à razão, das expressões de violência não monopolizadas pelo estado, da violência e brutalidade em seu estado ancestral. Assim, seja entre o que se convencionou chamar de “civilização” ou “barbárie”, a identidade dos personagens fronteiriços molda-se a ferro e fogo, no confronto e na resistência (ainda que infrutífera) ao ambiente e dentro de seus específicos ecossistemas sociais.