O desejo de superar nossas limitações biológicas é antigo.
Este desejo certamente desempenhou um papel importante no
advento da técnica; porém, como é sabido, a técnica tem uma dupla
face: além de benefÃcios, oferece riscos. A sabedoria recomenda
alcançar o melhor resultado sem comprometer a segurança; no
entanto, possÃveis desvios estão sempre no horizonte. O temor de
perder o controle de nosso poder é antigo. O problema é que,
atualmente, a tecnologia pode servir não somente para promover
capacidades humanas (buscando preservar ou restaurar a saúde,
promovendo o bem-estar humano), mas também pode ser
empregada com o objetivo de superar nossos limites muito além do
nosso "design natural". Temos razões para temer esses novos rumos
da biotecnologia? Devem a medicina e a saúde pública mudar seus
objetivos tradicionais e passar a buscar aprimoramentos artificiais?
Neste artigo, meu objetivo será apresentar e discutir brevemente os
principais tópicos sobre esse novo tema, o aprimoramento humano:
a distinção terapia-aprimoramento, a possibilidade de
aprimoramentos cognitivos e fÃsicos, a luta contra a senescência, os
argumentos a favor e contra a eugenia, os desafios da busca pela
perfeição, o aprimoramento moral, o problema de prioridades
públicas e sobre algumas consequências da aceitação do
aprimoramento humano para a ética médica. No final, pretendo
apresentar algumas perspectivas realistas.