A importância dos lugares na educação ambiental

REMEA - Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental

Endereço:
Av. Itália, s/n, Km 08 Campus Carreiros - Carreiros
Rio Grande / RS
96201-900
Site: http://www.seer.furg.br
Telefone: (53) 32364-0888
ISSN: 15171256
Editor Chefe: Vilmar Alves Pereira
Início Publicação: 01/07/2014
Periodicidade: Quadrimestral
Área de Estudo: Ciências Humanas, Área de Estudo: Educação

A importância dos lugares na educação ambiental

Ano: 2008 | Volume: 20 | Número: Especial
Autores: Mauro Grün
Autor Correspondente: Mauro Grün | [email protected]

Palavras-chave: Educação ambiental, lugares, ética Ambiental, environmental education, place, environmental ethics

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O trabalho analisa a importância dos lugares para a Educação Ambiental. Para tanto, são analisadas as concepções de espaço presentes em Descartes e Newton. Descartes via o espaço como mera extensão. O próprio corpo não é mais que espaço. Newton acreditava que o espaço era vazio e absoluto. Argumento que perdemos a noção de lugar. A partir do séc. XVII, vivemos como se estivéssemos em lugar nenhum. Perdemos a referência a lugares. Os lugares estão desaparecendo em detrimento do espaço. Casey (2000) argumenta que para um Ocidental instruído é o espaço que vem antes, enquanto para um Aborígene da Austrália e para muitos outros indígenas é o lugar. As narrativas pelas quais damos sentido às nossas vidas dificilmente estão enlaçadas a lugares. Naess (1995) acredita que 99% dos experts são educados para perceber um lugar ou uma paisagem não como bonito ou feio, mas como se fossem apenas 30 ou 40 km². O espaço moderno é visto como sendo “neutro” e como um meio previamente dado, uma tabula rasa na qual as particularidades da cultura e da história são inscritas. Há uma emancipação do lugar e uma nova Cosmologia inspirada no conceito de espaço vazio em Newton. Essa Cosmologia influenciou inclusive os processos de colonização pela Europa de países como a Austrália, que recebeu de seus primeiros “descobridores” o sugestivo nome de Terra Nulius (Terra de Ninguém), embora houvesse uma grande população de Aborígenes vivendo lá há mais de 40.000 anos. Argumento que para termos práticas mais ecologicamente orientadas precisaríamos nos “sentir em algum lugar”. “Estar em lugar”, ter “ a noção de lugar” é um modo de pertença ao mundo e é importante para nossa percepção primária e interconexões com o mundo não-humano. Na verdade, nós estamos sempre em lugares, não vivemos no espaço, mas a percepção predominante é ainda a do espaço neutro e desnudo de qualidades. Seguindo Casey (2000), afirmo que os lugares foram absorvidos pelo espaço neutro e homogêneo da ciência moderna, dificultando nossa noção e percepção dos lugares e aprofundando a crise ecológica. Ao final, proponho que a reapropriação social dos lugares seja uma das tarefas da Educação Ambiental.



Resumo Inglês:

This work will examine the importance of the idea of places for Environmental Education. As such, it will focus on the theoretical views on space put forth by Descrates and Newton. For Descrates, space was merely an extension. The body itself was space. In contrast, Newton believed that space was empty and absolute. Personally, I will argue that we have lost in fact any sense of what a place is. Indeed, since the XVIIth century we behave as if we lived in an outside place, in space. We have lost, in sum, the sense of place and place is disappearing to the benefit of space. Indeed, Casey (2000) proposes that while the educated Westerner privileges space, the Australian Aborigine, and indigenous peoples elsewhere prefer to focus on place. The stories through which we derive meaning in our lives rarely relate with place. Thus Naess (1995) says that 99% of experts are educated to see place as a place or landscape, not so much as ‘beautiful’ or ‘ugly’, but simply as ‘30’or ‘40 square kilometres’. Modern space is now perceived as neutral, as a given, a tabula rasa on which the particularities of culture and history are inscribed. Newton’s conception of ‘empty space’ has led to a Cosmology predicated on the the erasure of place. In fact, such a perception has influenced even the colonisation of certain parts of the world by European powers. In Australia, such a world-view resulted in the continent being suggestively described as Terra Nulius (No Man’s Land), despite an Aboriginal presence that streched back over 40.000 years. In this paper I will argue therefore that in order to adopt a more ecologically friendly life practice we will need to rediscover the sense of ‘belonging to place’. ‘To be in a place’, ‘to have a sense of place’ is thus central to being in the world, and to our primary perception of and relation with the non-human world in which we exist. In truth, in spite of the perception of the idea that space is neutral and devoid of any qualities, we do not live ‘in space’, we exist always ‘in place’. After Casey (2000), I argue that ‘place’ has now been absorbed by ‘neutral and homogenous ‘space’ posited by modern science. This in turn has complicated and undermined our perception and understanding of place, resulting in an ever-worsening ecological crisis. Finally, I will argue for a social reappropriation of place as a key strategy of Environmental Education.