A individualização da desigualdade social: dominação simbólica em experiências universitárias

Temáticas

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ISSN: 2595-315X
Editor Chefe: Maria Caroline Marmerolli Tresoldi
Início Publicação: 23/09/2020
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Ciências Humanas

A individualização da desigualdade social: dominação simbólica em experiências universitárias

Ano: 2023 | Volume: 31 | Número: 62
Autores: Mattos, Hellen Cristina Xavier da Silva, Fernandes, Maria Cristina da Silveira Galan
Autor Correspondente: Hellen Cristina Xavier da Silva Mattos | [email protected]

Palavras-chave: Educação superior, Acesso e permanência na universidade, Desigualdades escolares

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

No início do século XXI, a inclusão social é uma das características mais presentes nas políticas de ingresso na educação superior. Estas políticas propiciaram a diversificação social do público universitário, mas as trajetórias dos estudantes beneficiados são marcadas por encontros com a desigualdade social. Este artigo se insere nesta temática ao problematizar as associações que os estudantes estabelecem entre as dificuldades oriundas da desigualdade social e os talentos e dons individuais, caracterizando tal associação como fruto de uma dominação simbólica. Os relatos coletados por meio de entrevistas mostram que os considerados “novos estudantes” precisaram ser superselecionados por meio da escola para adquirir habitus e capital cultural que possibilitassem seu ingresso na universidade. O encontro com a desigualdade social pode ocorrer, especialmente, pela via econômica e acadêmica, sendo que esta última se configura como uma violência simbólica mais potente porque clama à dimensão do natural. Os dados trazidos neste artigo mostraram que os próprios estudantes questionam e classificam as suas performances associando-as a questões de capacidade e de dom, sem a necessidade de qualquer intervenção ou avaliação institucional. De forma não-consciente, os estudantes empregam categorias de percepção que os fazem entrar no jogo universitário, mesmo em uma situação desfavorável. Ou seja, os estudantes atuam como cúmplices nessa relação de dominação, porque as suas disposições já foram dominadas ao reconhecerem a legitimidade da universidade, acreditarem no discurso individualizante do mérito e desconhecerem as relações de força que se mantêm para a reprodução de uma sociedade desigual por meio do sucesso escolar.



Resumo Inglês:

At the beginning of the 21st century, social inclusion is one of the most present characteristics in policies for admission to higher education. These policies have led to a social diversification of the university population, but the trajectories of the benefited students are marked by encounters with social inequality. This article addresses this theme by problematizing the associations that students establish between difficulties arising from social inequality and individual talents and gifts, characterizing such association as a product of symbolic domination. The reports collected through interviews show that the so-called “new students” needed to be super-selected through school to acquire habitus and cultural capital that enabled their admission to the university. The encounter with social inequality can occur, especially, through economic and academic paths, with the latter being configured as a more potent symbolic violence because it claims to be natural. The data brought in this article show that the students themselves question and classify their performances by associating them with issues of capacity and gift, without the need for any institutional intervention or evaluation. Unconsciously, students employ categories of perception that make them enter the university game, even in an unfavorable situation. That is, students act as accomplices in this relationship of domination because their dispositions have already been dominated by recognizing the legitimacy of the university, believing in the individualizing discourse of merit, and ignoring the power relations that are maintained for the reproduction of an unequal society through school success.



Resumo Espanhol:

A principios del siglo XXI, la inclusión social es una de las características más comunes en las políticas de ingreso a la educación superior. Estas políticas favorecieron la diversificación social del público universitario, pero las trayectorias de los estudiantes beneficiados están marcadas por encuentros con la desigualdad social. Este artículo se inscribe en ese tema al problematizar las asociaciones que los estudiantes establecen entre las dificultades derivadas de la desigualdad social y los talentos y dones individuales, caracterizando tal asociación como resultado de la dominación simbólica. Los relatos recogidos a través de entrevistas muestran que aquellos considerados “alumnos nuevos” necesitaban ser superseleccionados a través de la escuela para adquirir habitus y capital cultural que les permitiera ingresar a la universidad. El encuentro con la desigualdad social puede darse, especialmente, por medios económicos y académicos, configurándose este último como una violencia simbólica más potente porque reivindica la dimensión de lo natural. Los datos traídos en este artículo mostraron que los propios estudiantes cuestionan y clasifican sus actuaciones, asociándolas a cuestiones de habilidad y don, sin necesidad de ninguna intervención o evaluación institucional. Inconscientemente, los estudiantes emplean categorías de percepción que les hacen entrar en el juego universitario, incluso en una situación desfavorable. Es decir, los estudiantes actúan como cómplices de esta relación de dominación, porque sus disposiciones ya han sido dominadas al reconocer la legitimidad de la universidad, creer en el discurso individualizador del mérito y desconocer las relaciones de poder que se mantienen para la reproducción de una sociedad desigual. por medio del éxito escolar.