O presente artigo busca sondar o caráter intempestivo da filosofia a partir de Nietzsche. Trata-se de explorar a hipótese fundamental de que a crítica nietzscheana à Época Moderna, ao cientificismo e à ideologia do progresso não representa nenhuma fuga do presente ou recusa do tempo histórico, mas antes se origina de uma abertura ainda mais radical à historicidade da existência humana. Tal abertura constitui o solo a partir do qual passa a realizar-se a filosofia como forma de pensamento essencialmente terrena, isto é, como forma de redenção do assim chamado ‘espírito de vingança’. Com isso, tivemos de tratar igualmente do conceito de vontade de poder e da experiência fundamental da ‘morte de Deus’, tais como compreendidos por Nietzsche. Consideramos que esta última experiência representa o começo da filosofia contemporânea propriamente dita, tal como o thaumázeinrepresentava, para Platão e Aristóteles, o começo da filosofia, isto é, sua origem essencial