Este artigo propõe uma análise crítica da obra de Isabela Figueiredo, investigando sua recusa às classificações dicotômicas de revolucionária ou reacionária. A partir de seus romances Caderno de memórias coloniais (2009), A gorda (2016) e Um cão no meio do caminho (2022), examina-se como a autora constrói uma literatura marcada pela ambivalência e pela exposição das complexidades da experiência humana. Seus textos transitam entre o testemunho e a autoficção, explorando temas como parentalidade, sexualidade, colonialismo e identidade. A análise destaca a maneira como Figueiredo questiona o “cancelamento” e defende a liberdade criativa do escritor, rejeitando censuras impostas por convenções morais. A sexualidade feminina, elemento central em sua literatura, é abordada de forma visceral, desafiando tabus e expondo a repressão imposta às mulheres, como ressalta Paulina Chiziane em seu prefácio presente em Caderno de memórias coloniais. Além disso, o artigo discute o papel do corpo na narrativa da autora, que o representa simultaneamente como espaço de prazer e conflito. Por meio de uma escrita franca e sem concessões, Isabela Figueiredo propõe uma reflexão profunda sobre a condição humana, recusando simplificações e oferecendo uma literatura que desafia categorias fixas. Sua obra, ao invés de fornecer respostas definitivas, convida o leitor a um olhar mais crítico e matizado sobre a existência. Dessa forma, a autora se consolida como uma das vozes mais instigantes da literatura contemporânea de língua portuguesa.
This article presents a critical analysis of Isabela Figueiredo’s work, exploring her rejection of the dichotomous classifications of revolutionary or reactionary. Through her novels Caderno de memórias coloniais (2009), A gorda (2016) and Um cão no meio do caminho (2022), the study examines how the author constructs a literature marked by ambivalence and the complexities of human experience. Her texts navigate between testimony and autofiction, addressing themes such as parenthood, sexuality, colonialism, and identity. The analysis highlights Figueiredo’s stance on “cancel culture” and her defense of the writer’s creative freedom, rejecting censorship imposed by moral conventions. Female sexuality, a central element in her literature, is explored in a visceral manner, challenging taboos and exposing the repression imposed on women, as emphasized by Paulina Chiziane in her preface to Caderno de memórias coloniais. Additionally, the article discusses the role of the body in Figueiredo’s narratives, where it is depicted as both a site of pleasure and conflict. Through an unfiltered and uncompromising writing style, Isabela Figueiredo offers a profound reflection on the human condition, refusing simplifications and presenting a literature that defies fixed categories. Rather than providing definitive answers, her work invites readers to adopt a more critical and nuanced perspective on existence. In this way, she establishes herself as one of the most compelling voices in contemporary Portuguese-language literature.