A figura feminina detém uma força misteriosa que provoca, até os dias de hoje, fascínio e medo, características que estão intrinsecamente associadas às Iyá Mi Oxorongá, que são divindades que chegaram ao Brasil por meio da diáspora espiritual africana. Neste trabalho, pretende-se estabelecer a relação do culto das Iyá Mi com o matriarcado e o poder feminino no candomblé, buscando compreender o papel social e sagrado das sacerdotisas nos espaços religiosos, além de ratificar o protagonismo feminino nessa religião afro-brasileira. A abordagem qualitativa foi adotada para se discutir os mitos cosmogônicos de criação do mundo e da humanidade através das divindades Odudua e Obatalá. O referencial teórico se baseou na literatura especializada de livros e artigos buscados nas bases Google Scholar e SciElo. Essa análise foi complementada com a interpretação do mito que consta no primeiro verso do itan 204 do livro a “A Mitologia dos Orixás” de Reginaldo Prandi, que apresenta o arquétipo feminino das Iyá Mi Oxorongá, as Feiticeiras Ancestrais associadas à Odudua, a grande Mãe da Criação, e ao poder matriarcal das sacerdotisas do candomblé. Uma das versões do mito cosmogônico apresenta Odudua como a responsável por gestar o mundo usando a Igbá-Odu, a cabaça da existência, e a Obatalá de fazer surgir a humanidade. O culto a essas divindades é praticado no candomblé, onde Odudua está relacionada à ancestralidade feminina e a sua capacidade em gerenciar a vida e a morte. A análise desse mito permitiu mostrar essa simbologia vivenciada pelas Iyalorixás, mulheres que se destacam por assumir sua fé para manter unidos os elos das comunidades religiosas, que são espaços de resistência diante de uma sociedade culturalmente ocidentalizada e patriarcal. O mito das Iyá Mi está intimamente conectado a essa questão, ressaltando o olhar sagrado do poder feminino relacionado à condição de ser mulher.