Este trabalho parte da percepção de que a obra do pianista e compositor de jazz Thelonious Monk, para além de sua grande relevância musical, pode ser vista em uma dimensão canônica e simbólica, uma vez que por meio de suas composições, do seu jeito de fazer música e, também, de sua personalidade marcante, que beira a excentricidade, Monk parece ter se tornado uma espécie de mito, um emblema capaz de influenciar e pautar as discussões ligadas ao jazz. Neste sentido, o objetivo deste estudo é observar como este emblema parece, de certa forma, ser um elemento em disputa, uma espécie de capital simbólico usado para validar diversas correntes musicais, especialmente a vanguarda e o neoclassicismo, que parecem pleitear uma determinada hegemonia dentro do campo da musicologia do jazz. Muito desta controvérsia pode ser vista nas obras de autores como Daniel McClure (2006) e David Ake (2002), que questionam a consolidação do cânone jazzístico e as disputas dentro deste campo, e Robin Kelley (1999), que discute como a obra e a imagem de Monk foram apropriadas por grupos, de ambos os lados, que tentavam consolidar uma tradição e uma narrativa sobre o que é o jazz. Além destes autores é conveniente trazer ao debate algumas percepções ligadas ao campo neoclássico a partir de textos como The Jazz Tradition (1993), escrito por Martin Williams, e os textos do trompetista Wynton Marsalis (2008). Por fim, por meio das gravações de releituras das composições de Thelonious, será possível, sonoramente, observar como cada um destes campos se apropria desse repertório e quais discursos musicais eles tentam validar a partir dele.
This work starts from the perception that the work of the pianist and jazz composer Thelonious Monk, besides its great musical relevance, can be seen as a canonical and symbolic dimension that, through his compositions, his way of making music, and, also, his strong personality that borders on eccentricity, Monk seems to have becomed some sort of myth, an emblem capable to influence and guide jazz discussions.Following that, the aim of this paper is to observe how this emblem seems, in some way, to be a disputed element, a kind of symbolical capital used to validate several musical chaims, especially the Avant Garde and neoclassicism, which seem to dispute a certain hegemony inside the field of jazz musicology. Most of this discussion can be seen in works from authors such as Daniel McClure (2007), David Ake (2002), that discuss the consolidation of the jazz canon and disputes in this field, and Robin Kelley (1999), who discusses how Monk’s work and image were appropriated by groups on both sides trying to consolidate a tradition and narrative about what jazz is. Besides these authors it is convenient to bring to this discussion some perceptions related to the neoclassical field from texts as The Jazz Tradition (1993), written by Martin Williams, and the texts from the trumpeter Wynton Marsalis (2008). Finally, through the recording of rereadings made from Thelonious’ compositions, it will be possible, sonorously, to observe how each of these fields appropriates from this repertoire and which musical discourses they try to validate with it.