Se há uma matriz temática na obra de Kiarostami é, principalmente, o acompanhamento das perambulações de homens e crianças. Tal constante expõe um forte aspecto de sua relação com o cinema moderno: o Neo-realismo, a Nouvelle Vague e o Cinema Novo, sempre se puseram a olhar andarilhos e andanças, nos espaços amplos e vazios, nas cidades ou em meio à aridez do sertão. Em Dez (Iran, 2002), essa matriz se condensa de forma radical. Manifesto de um olhar contemporâneo para o estar dos homens no mundo, o traço documental que caracteriza o dispositivo do filme é aquele que confina o espectador às idas e vindas do carro de Mania em seus trajetos cotidianos pelas ruas de Teerã. Mas, em que medida o habitáculo do carro, ao impor um controle excessivo nos procedimentos de filmagem, permite a evidência da vida ordinária, tão cara ao cinema moderno?
Otherness tricks in the cubicle: an analysis of the confinement device in Ten, by Abbas Kiarostami. If there is a matrix in Kiarostami’s work at all, it is mainly characterized by following men and children roaming. Such pattern reveals a deep aspect of his relationship with Modern Cinema: neo-realism, Nouvelle Vague, and Cinema Novo, have always looked at ramblers and their rambles through wide and empty spaces, through cities, or through barren deserts. In Ten (Iran, 2002), this matrix is condensed in a radical way. As a manifest of a contemporary regard of men and women’s presence in the world, the documentary trace that characterizes the film device is the same one that confines the spectator into Mania’s car and her everyday routes around the streets of Teheran. However, to what extent does the cubicle space of the car, that imposes an excessive control over shooting procedures, also allows the manifestation of ordinary life, which is so important to Modern Cinema?