O presente artigo busca suscitar algumas reflexões sobre os sentidos que emergem da narrativa jornalÃstica sobre pessoas anônimas, em geral, desprezadas pela maioria dos meios de comunicação. Grande parte da mÃdia prioriza apenas fatos extraordinários que envolvam figuras públicas ou pessoas famosas. Apesar de esses modelos hegemônicos terem origem nos periódicos europeus do século XVII, foram fortemente influenciados por uma racionalidade indolente (Santos, 2002), que estabelece dicotomias como co- nhecimento cientÃfico/conhecimento tradicional, cultura/natureza, civilizado/primitivo, norte/sul, ocidente/oriente. Esta postura valoriza apenas o que é abrangido pela moder- nidade ocidental. Como mediador da realidade social, os meios de comunicação tam- bém podem assumir o compromisso de dar voz a todas as gentes, de diversos gêneros, classes sociais e culturas, inspirados no que Santos nomeia como Sociologia Cosmopo- lita. A valorização do cotidiano anódino e de histórias de pessoas anônimas aqui é dis- cutida a partir da análise de duas reportagens da revista Brasileiros. A partir do emprego de recursos da Análise Pragmática da Narrativa JornalÃstica (Motta, 2010) o intuito foi de investigar a presença de relatos que contemplam essas preocupações, assim como examina o tratamento dado a estes temas – um jornalismo de emergência – como alter- nativa aos modelos jornalÃsticos hegemônicos.