Língua de sinais, gestos e cores: o caso ka’apor

LIAMES

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ISSN: 2177-7160
Editor Chefe: Angel Corbera Mori
Início Publicação: 01/01/2001
Periodicidade: Anual
Área de Estudo: Linguística, Letras e Artes, Área de Estudo: Linguística

Língua de sinais, gestos e cores: o caso ka’apor

Ano: 2022 | Volume: 22 | Número: Não se aplica
Autores: Silva, Gustavo de Godoy e
Autor Correspondente: Gustavo de Godoy e Silva | [email protected]

Palavras-chave: Tipologia lexical das cores, Língua de sinais Ka'apor, Gestos

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

A língua de sinais ka'apor não tem nenhuma palavra que denote uma cor específica. Somando-se a esse fato, aparentemente curioso, há outro ainda mais revelador e ao que parece contraditório: há um sinal que designa a ideia genérica de cor. Isso não é tudo. O sinal cor é também usado na gesticulação que acompanha a língua ka'apor falada, a qual não apresenta um item lexical que designe o conceito de cor. Portanto, o ka'apor falado apresenta um gesto para a ideia genérica de cor e itens lexicais da fala que são termos para cores específicas. Partindo desses dados, retomo uma discussão geral sobre a semântica das cores específicas, argumentando que esse não é um domínio fundamental das línguas humanas (Wierzbicka 2008). Além disso, argumento que a modalidade gestual, embora seja um canal visual, é rebelde à referência de cores: as línguas de sinais, por isso, não se adequam à ideia de termos básicos para cores, tal como formulada por Berlin e Kay (1969). Cito aqui o caso da Libras, da língua de sinais do povo yolŋu e da língua de sinais de Top Hill. Por fim, observo que se a língua de sinais ka'apor ignora os termos específicos para cores, o pensamento mítico ka'apor, conhecido por surdos e ouvintes, conceptualiza o excesso de cores como algo maléfico – fato este já demonstrado pela análise comparativa de mitos (Lévi-Strauss 1964). O presente artigo é uma revisão e continuação do trabalho de Ferreira e Siqueira (1985) que compararam a língua de sinais do povo ka’apor com a Libras.



Resumo Inglês:

Ka'apor sign language does not have any words denoting a specific color. In addition to this supposedly curious fact, there is another even more revealing and apparently contradictory: there is a sign that designates the generic idea of COLOR. This is not everything. The COLORsign is also used in the gesticulation that accompanies the spoken Ka'apor language, which does not have a lexical item designating the concept of color. Therefore, spoken Ka'apor presents a gesture for the generic idea of COLORand terms for specific colors in speech. Based on these data, I resume a general discussion about the semantics of specific colors, arguing that this is not a fundamental domain of human languages (Wierzbicka 2008). Furthermore, I argue that the gestural modality,althoughit is a visual channel, is rebellious to the reference of colors: sign languages, therefore, do not adapt to the idea of the basic color terms, as formulated by Berlin and Kay (1969). I cite the case of Libras, the Yolŋu people's sign language, and the Top Hill sign language. Finally, I observe that if the Ka'apor sign language ignores the specific terms for colors, the mythical Ka'apor thought, known by deaf and hearing people, conceptualizes the excess of colors as something harmful -a fact that has already been demonstrated by the comparative analysis of myths (Lévi-Strauss 1964). This article is a review and continuation of the work by Ferreira and Siqueira (1985) who compared the sign language of the Ka’apor people with Libras.