Eugen Rosenstock-Huessy observava em Carta Magna Latina (1974) que, se você diz "ii1i" e o seu interlocutor repete o mesmo som, vocês estão se comunicando como animaizinhos imersos num estado anímico comum, mas que, se você diz "Escute!" e ele responde "Estou escutando", então vocês entraram no mundo da comunicação humana, graças ao milagre da linguagem articulada. Na linguagem articulada os papéis do falante e do ouvinte estão perfeitamente diferenciados: um falante responsável comunica uma mensagem res-pondível a um ouvinte respondente. E só a partir desse nível de comunicação que os seres humanos podem narrar e perpetuar, prometer e cumprir, planejar e realizar, concordar e colaborar, erguer enfim, sobre a base da natureza, a ordem da História. A linguagem articulada dá ao homem a possibilidade de conceber o futuro com base na experiência dos ancestrais e abre para o indivíduo uma existência num plano temporal superior ao de sua duração biológica, num espaço mais vasto que o da sua ação física. Originada nos ritos e nos cantos épicos, a linguagem articulada encontra sua plena expressão na linguagem formal — o idioma das leis, da filosofia, das ciências, dos debates públicos — onde a máxima clareza na atribuição das responsabilidades termina de libertar os indivíduos de seu isolamento e lhes dá a possibilidade de tomar parte consciente na vida histórica da sociedade inteira.