A entrevista de pesquisa trabalhada neste artigo está mais próxima da investigação sociológica, considerada a partir do contexto das ações e da interação na qual ela está inserida. Nesse sentido, o uso de categorias abstratas e normativas, e que a princÃpio poderiam fornecer informações para a prática sociológica (empatia, neutralidade, confiança…), mostra-se insuficiente e pouco operacional na medida em que elas estão distantes das posturas pragmáticas que o sociólogo deve adotar em uma entrevista. A análise proposta aqui se baseia em duas experiências de pesquisa, realizadas em populações contrastantes: jovens de baixo nÃvel escolar e polÃticos que ocupam cargos eletivos. A análise dá atenção particular à s interpretações e contra-interpretações que os sujeitos-pesquisados produzem – e exprimem de diversas maneiras – sobre a situação da entrevista, bem como as estratégias desenvolvidas pelo sociólogo para estabelecer e sustentar uma situação de interação adequada aos objetivos da pesquisa. Tal situação implica examinar duas dimensões estruturantes da entrevista de pesquisa: a legitimidade dos sujeitos-pesquisados ao falarem, o que não deixa de depender de seus atributos sociais e culturais (os assuntos da pesquisa); e a familiaridade que entrevistados possuem com os registros discursivos que eles podem mobilizar como recursos interacionais (os objetos da pesquisa). Assim, a reflexividade sobre a entrevista de pesquisa não seria caracterizada unicamente, e nem mesmo principalmente, pelos caminhos e táticas adotadas pelo pesquisador, mas deve afrontar o caráter interacional e dialógico da entrevista. Por isso, não são apenas as práticas de pesquisa que necessitam ser esclarecidas, mas também as práticas dos sujeitos-pesquisados: como eles compreendem a solicitação da entrevista, como interpretam a situação da pesquisa, como definem um lugar de enunciação; que registros discursivos atualizam na interação? É em função desses elementos que a identificação e a qualificação dos entrevistados devem ser situadas. E o sociólogo pode, nesse caso, ajustar suas práticas de pesquisa.
The research interview, and the interactions from which it is constituted, is here considered as most closely embodying sociological enquiry. Within this framework, resorting to abstract and normative categories which are meant to provide guidelines for sociological practice (empathy, impartiality, trust) here appears insufficient and unworkable, since these categories are too far removed from the pragmatic positions which a sociologist must adopt when conducting interviews. Thus the analysis we present here draws on two examples of surveys carried out with contrasting populations: young people with low educational attainment, and elected politicians. We pay particular attention to the interpretations and counter-interpretations which each survey produces—and expresses in various ways—of the circumstances of the interview, and of the strategies which the sociologist develops to set out and maintain a framework of interaction which is appropriate to the aims of the investigation. This leads us to examine two structuring dimensions of the research interview: the legitimacy of the interviewees to speak, which cannot be disassociated from their social and cultural attributes (the subjects of the investigation); and the familiarity of the interviewees with discursive registers which can be mobilised as resources within interaction (the objects of the investigation). Henceforth reflexivity concerning research interviews cannot relate solely, or even principally, to the behaviour and strategies adopted by the researcher, but must also address the interactional and dialogical nature of the interview. For this to happen it is not just research practices which need to be clarified, but also the practices of those interviewed: what is their understanding of what they are being asked to do; how do they make sense of the circumstances of the interview; what meaning do they attach to a place of enunciation; what discursive registers do they bring to bear in the interaction? It is in relation to these factors—the identification and description of which requires analysis—that the sociologist may, and must, adapt his or her investigative practices.
L’entretien de recherche est considéré ici au plus près de l’enquête sociologique en actes et de l’interaction qui le constitue. Dans ce cadre le recours aux catégories abstraites et normatives supposées fournir des guides à la pratique sociologique (empathie neutralité, confiance…) apparaît insuffisant et peu opératoire, car elles sont trop éloignées des postures pragmatiques que le sociologue doit adopter en situation d’entretien. Aussi l’analyse proposée s’appuie sur deux expériences d’enquêtes, réalisées auprès de populations contrastées : des jeunes de faible niveau scolaire et des élus politiques détenteurs de mandats électoraux. Elle porte une attention particulière aux interprétations et contre-interprétations que les enquêtés produisent — et expriment de diverses manières — de la situation d’entretien, et aux stratégies développées par le sociologue pour poser et tenir un cadre d’interaction ajusté aux objectifs de l’enquête. Cela conduit à examiner deux dimensions structurantes de l’entretien de recherche : la légitimité des enquêtés à la prise de parole, qui n’est pas indépendante de leurs attributs sociaux et culturels (les sujets de l’enquête) ; et la familiarité pour les enquêtés de registres discursifs qu’ils peuvent mobiliser comme ressources interactionnelles (les objets de l’enquête). Dès lors la réflexivité sur l’entretien de recherche ne saurait porter uniquement, ni même principalement, sur les conduites et tactiques adoptées par le chercheur, mais elle doit affronter le caractère interactionnel et dialogique de l’entretien. Pour cela, ce n’est pas seulement les pratiques de recherche qu’il faut éclairer, mais aussi les pratiques des enquêtés : comment ils comprennent la requête, comment ils interprètent la situation d’enquête, comment ils investissent une place d’énonciation, quels registres discursifs ils actualisent dans l’interaction? C’est en fonction de ces éléments, dont l’identification et la qualification exigent une analyse, que le sociologue peut, et doit, ajuster ses pratiques d’enquête.