Na França, e para além dela, viajar se tornou atualmente objeto de tamanho interesse que a viagem já não se trata mais de um fenômeno da moda, mas constitui um dos elementos fundamentais do comportamento contemporâneo. As razões levantadas pelos incontáveis nômades ocasionais pertencem ao registro da comunicação: ir ao encontro do Outro, dizem eles, responde a uma grande preocupação com a cultura e a humanização. Esta visão reconfortante pode e deve nos satisfazer? Em uma célebre diatribe, o antropólogo Claude LeviStrauss criticou esta grande obsessão com a transumância. O filósofo Jean Brun, por sua vez, desenvolveu uma interpretação particularmente redutora sobre os vagabundos do Ocidente, atormentados pela finitude fundamental de seu estar-nomundo. Certamente, existiram e existem viajantes verdadeiramente abertos ao desejo do desconhecido e expostos aos riscos concomitantes a ele. E é possível, como sugere o diário de viagem de Heidegger, que a viagem autêntica seja aquela que, mesmo de maneira fugaz, nos coloca de fronte não a uma perambulação infinita, mas a um recentramento ontológico.
In France, and even beyond it, to travel has become lately a subject of such interest that it can’t be considered just a trending phenomenon, but a fundamental contemporary behavior. The reasons announced by the uncountable occasional nomads are registered by communication: reaching the Other, they say, is an answer to a great concern on culture and humanization. However, can or should this comforting turn satisfy us? In a notorious diatribe, the anthropologist Claude Levi-Strauss has criticized this great obsession with transhumance. The philosopher Jean Brun, in his turn, has developed a particularly reductive interpretation on the vagabonds of the Occident, tormented by the finitude of their own way of being-in-the-world. Of course there were and there are travellers really opened, desiring the unknown and the risks inherent to it. And it’s also possible, as Heidegger’s travel journals seems to suggest, that the authentic travel is the one which, even in an ephemeral way, let us face not the eternal wander, but ontological recentering.
En France et bien au-delà, le voyage est devenu aujourd’hui l’objet d’un engouement qui, davantage encore qu’un phénomène de mode, semble constituer un des ingrédients fondamentaux des mœurs contemporaines. Les raisons invoquées par les innombrables nomades occasionnels appartiennent au registre de la communication : il s’agit, disentils, d’aller à la rencontre de l’Autre dans un vaste souci de culture et d’humanisation. Cette vision rassurante des choses peut-elle et doit-elle pour autant nous satisfaire ? Dans une diatribe célèbre, l’anthropologue Claude Lévi-Strauss a fustigé cette vaste obsession de la transhumance. Et le philosophe Jean Brun a déployé une interprétation particulièrement réductrice des vagabonds de l’Occident, taraudés par la finitude fondamentale de leur être-au-monde. Certes, il a existé, et il existe d’authentiques voyageurs ouverts au désir de l’inconnu et exposés aux risques qui lui sont concomitants. Et il est possible, comme le laisse surgir le journal de voyage de Heidegger, que le voyage authentique soit celui qui nous met en présence, fût-ce fugitivement, non d’une déambulation perpétuelle, mais d’un ontologique recentrage.