LEGADO DA VI JORNADA DE AGROECOLOGIA DA BAHIA - TEIA DOS POVOS, NAS TERRAS PAYAYÁ DA CHAPADA DIAMANTINA

Cadernos Macambira

Endereço:
Estrada Vicinal de Aparecida, s/n, - IF Baiano - Serrinha. Sala 1, prédio acadêmico - Aparecida
Serrinha / BA
48700000
Site: http://revista.lapprudes.net/index.php/CM
Telefone: (75) 8807-1920
ISSN: 2525-6580
Editor Chefe: Erasto Viana Silva Gama
Início Publicação: 09/09/2016
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Multidisciplinar

LEGADO DA VI JORNADA DE AGROECOLOGIA DA BAHIA - TEIA DOS POVOS, NAS TERRAS PAYAYÁ DA CHAPADA DIAMANTINA

Ano: 2019 | Volume: 4 | Número: 2
Autores: JUVENAL PAYAYÁ
Autor Correspondente: JUVENAL PAYAYÁ | [email protected]

Palavras-chave: Teias dos povos, Autonomia, Povos tradicionais

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O município de Utinga, na Chapada Diamantina, recebeu a VI Jornada de Agroecologia da Bahia entre os dias 16 e 20 de outubro de 2019, no Território Indígena Payayá. Sua realização se deu de modo muito diferente das festas que vemos comumente na região. Nestas, multidões se deslocam de um município para outro em busca de um evento para curtir, nas quais prefeituras e entidades promotoras desdobram-se em aviltantes gastos (a enfeitar praças e ruas de bandeirolas, recorrendo a um verdadeiro exército de garis, eletricistas, engenheiros de palcos, cantores e bandas nacionais), para receberem dois ou três mil pessoas que deixam um rastro de consumo de álcool e toneladas de latas e lixo para trás (além de notícias policiais). Na VI Jornada tudo foi diferente. Esta diferença talvez tenha sido seu maior legado. O primeiro destaque foram as possibilidades de realização existentes na força de um povo unido: pequenos grupos em mutirões construíram basicamente toda a infraestrutura do evento sem gastos exorbitantes. A solidariedade imperou. O município de Utinga, mais especificamente a vila de Cabeceira do Rio, abrigou visitantes com carinho e o respeito devido. O poder público entendeu seu papel e colaborou no que foi possível. A divulgação de boca em boca e nas redes sociais predominou. Nada de artistas famosos e discursos tradicionais demarcadores de interesses. @s jornadeir@s tomaram conta do microfone e os povos indígenas, quilombolas, pescadores, movimentos sociais diversos, tanto urbanos e quanto rurais, e ocuparam o lugar central: o sagrado Festa-Trabalho-Pão. A diversidade se fez presente nas delegações, na articulação direta da Teia dos Povos por meio da unidade negra, indígena e popular, mostrando uma tendência das populações conscientes e lutadoras; professores universitários debatendo ao mesmo nível dos pequenos agricultores; variadas profissões, línguas e países; mulheres negras, indígenas e brancas juntas debatendo a feminilidade e a educação; indígenas debatendo seus direitos “liquido e certo”: o colaborativo, a produção e seus novos mercados; as crianças ocuparam um dos mais emblemáticos ambientes histórico rural deste país, aprendendo com ele: a casa de taipa. Aprendemos que as festas populares, além da sensação (boa ou má) de quem participa ou não, legam estruturas para utilização como uma reciclo. A festa deixou a oka que serviu de palco, além de outras instalações (para o desespero dos locadores destas estruturas) que serão usadas pelo Território. Não foi necessário alugar toldos, cadeiras ou qualquer estrutura de palco, nem mesmo degraus, afinal, como todos ali eram iguais, não precisávamos estabelecer nenhuma hierarquia. As empresas de fast food altamente dispendiosas ficaram de fora. Todas delegações trouxeram a sua cozinha, reinando a solidariedade. Como energia, usou-se o vegetal seco colhido na área. Veio a público a história secreta de um dos maiores líderes indígenas da Bahia em sua época, o Cacique Sacambuasu, a qual o colonizador escondeu dos povos durante séculos. A religiosidade talvez deixou seu maior legado, não só por desmistificar o monopólio de Deus de alguns credos, mas, sobretudo, pela manifestação das mais diversas linguagens e modos de louvar a Deus. Agroecologia é a alternativa para quem deseja aprender a viver a vida sem agredir ao próximo nem a natureza. Logo, podemos dizer que a VI Jornada de Agroecologia veio para nos ensinar variadas lições com sua pedagogia nativa em busca da paz, do bem viver. Fica aqui a gratidão dos povos, em particular do município de Utinga, da Cabeceira do Rio e do Povo Indígena do Payayá.