O presente artigo busca acompanhar o debate atual sobre Leishmaniose, em especial a Leishmaniose Visceral, sob a perspectiva de uma etnografia multiespécies. Para isso, busca-se primeiramente acompanhar a trajetória da leishmaniose no Brasil e mais especificamente na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, tida aqui enquanto um exemplo de caso limite. Propõe-se também debater acerca do diagnóstico e a estratégia de saúde pública que baseia-se na eutanásia de cães com diagnóstico positivo para leishmaniose visceral, e as controvérsias implicadas. Apresentam-se, assim, duas correntes em disputa no discurso de especialistas: os que percebem a eutanásia enquanto eficaz e aqueles que questionam o método e acreditam em estratégias alternativas ao procedimento. Nesse contexto de disputa simbólica e política, a situação de Porto Alegre no quadro de referências sobre leishmaniose demonstrou peculiaridades, fato que pode ser compreendido pela dimensão que o movimento protecionista ocupa no cotidiano da cidade. Seguindo o debate em torno de políticas de controle de riscos sanitários, a problemática aqui analisada atenta para as maneiras pelas quais políticas globais passam por ajustes e modificações quando implementadas em contextos locais.