Ainda hoje é bastante comum a prática escolar de se tratar isoladamente a leitura, a escrita e a gramática, como se essas fossem instâncias que pouco dialogam. Nessa perspectiva, a escola tem conferido à leitura e à escrita um tratamento cada vez mais distanciado do que de fato são essas atividades, socialmente. Com a priorização dos conhecimentos gramaticais, as aulas de leitura e de escrita têmse transformado em pretextos para o estudo de questões normativas. Pretendemos defender, neste trabalho, que, na contramão do que se tem feito na escola, o conhecimento gramatical deve atuar como suporte para as atividades de leitura e de escrita, e não o inverso. Entretanto, para que esse movimento se realize de maneira eficaz, é preciso, antes de tudo, que o professor adote uma concepção de leitura e de escrita mais afinada com as demandas da sociedade atual. Assim, na esteira de Freire (1984), Kleiman (1989), Soares (1998), Dell’Isola (1991), dentre outros autores, a leitura não pode mais ser concebida como um simples mecanismo de decodificação e ativação dos conhecimentos; nem a escrita como a mera junção de frases que se articulam. Antes, leitura e escrita devem ser compreendidas como processos de negociação de sentidos, como práticas enunciativas, marcadas pela interação autor-texto-leitor. São processos extremamente complexos, que abrangem dimensões muito variadas e operações interdependentes e concomitantes, seja do ponto de vista estritamente linguÃstico e cognitivo, seja do ponto de vista semiótico e social. Mas, para a efetivação dessas atividades tão complexas, que papel tem a ‘gramática’? Como o professor pode integrar gramática, leitura e escrita? São essas as principais questões sobre as quais pretendemos refletir.