A pandemia de Covid-19 cobriu os rostos com máscaras de proteção, de diferentes formatos e tipologias, que transformou a visibilidade da expressão facial humana. Os desenhos de observação aqui apresentados são instantâneos dessa reconfiguração, realizados em Lisboa a partir de 2020, durante o meu quotidiano na pandemia. Apontamentos rápidos de desconhecidos em espaços públicos, registados in situ, em cadernos ou folhas soltas, com materiais que tinha à mão (ou no bolso). A simplicidade da linha permitiu a urgência da velocidade do registo para reduzir o embaraço da fixação ocular, num contexto vulnerável de saúde pública. A modelação geométrica da máscara rompeu com o cânone das proporções, e alterou a expressão e os elementos mínimos de reconhecimento facial. A relação compositiva olhos-nariz-lábios desapareceu, para dar lugar a outras entidades: olhar-sobrancelha, trapézio da testa, moldura do cabelo, orelhas-cabide e pescoço-pedestal. Na nova ordem visual, o conflito entre identidade e abstração fez acordar os valores simbólicos, sociais e culturais do uso de máscaras na construção da personalidade, na representação de narrativas e na opressão de direitos e liberdades.
The Covid-19 pandemic covered faces with protective masks, of different shapes and typologies, which transformed the visibility of human facial expressions. The observational drawings presented here are snapshots of this reconfiguration, carried out in Lisbon in 2020, during my daily life during the pandemic. Quick notes of strangers in public spaces, recorded in situ, in notebooks or loose sheets, with materials I had at hand (or in my pocket). The line’s simplicity allowed the recording speed’s urgency to reduce the embarrassment of ocular fixation, in a vulnerable public health context. The geometric modelling of the mask broke with the canon of proportions and changed the expression and the minimum elements of facial recognition. The eyes-nose-lips compositional relationship disappeared, to give way to other entities: gaze-eyebrow, forehead trapezium, hair frame, ears-hanger, and neck-pedestal. In the new visual order, the conflict between identity and abstraction has awakened the symbolic, social and cultural values of the use of masks in the construction of personality, the representation of narratives and the oppression of rights and freedoms.
La pandemia de Covid-19 cubrió los rostros con mascarillas protectoras, de diferentes formatos y tipologías, que transformaron la visibilidad de la expresión facial humana. Los dibujos de observación presentados aquí son instantáneas de esta reconfiguración, llevada a cabo en Lisboa a partir de 2020, durante mi vida diaria durante la pandemia. Apuntes rápidos de desconocidos en espacios públicos, registrados in situ, en cuadernos u hojas sueltas, con materiales que tenía a mano (o en el bolsillo). La simplicidad de la línea permitió la urgencia de la velocidad de dibujo para reducir lo pudor de la fijación ocular, en un contexto de salud pública vulnerable. El modelado geométrico de la mascarilla rompió con el canon de proporciones, y cambió la expresión y los elementos mínimos de reconocimiento facial. La relación compositiva ojos-nariz-labios desapareció, para dar paso a otras entidades: mirada-ceja, trapecio de la frente, marco del cabello, orejas-colgador y cuello-pedestal. En el nuevo orden visual, el conflicto entre identidad y abstracción despertó los valores simbólicos, sociales y culturales del uso de mascarillas en la construcción de la personalidad, en la representación de narrativas y en la opresión de derechos y libertades.