O presente artigo põe em confronto a perspectiva de cronistas portugueses quatrocentistas e viajantes estrangeiros que passaram por Lisboa no século XV, com a finalidade de mostrar como esses escritos foram decisivos para fazer da cidade a “cabeça” de Portugal, já que o passado que selecionaram para tornar lembrado ajudou a traçar o passado que se consolidou como o “verdadeiro” passado de Lisboa. Com pesos diferenciados, cronistas e viajantes são as peças-chave na configuração da imagem de Lisboa e de uma história de Lisboa. Uma imagem e uma história que não devem ser ingenuamente opostas a um conjecturado real, mas, antes, devem ser vistas como formas narrativas de dar sentido a experiências difusas. Cronistas e viajantes do século XV pintam uma Lisboa que ainda não se anunciava como a dirigente das navegações para Oriente e Ocidente, como virá a defini-la o cronista Damião de Góis no século XVI e como o seguirão viajantes estrangeiros, mas que já era prenunciada como “cidade grandíssima e cabeça de Portugal”.
This article compares the points of view of 15th-century Portuguese chroniclers and travelers who passed through Lisbon in that same century, to show how these writings were decisivein making it the main city of Portugal, since the past they had selected to be remembered helped to shape what has become the "true" history of Lisbon. With different emphases, chroniclers and travelers have been the key elements in shaping the image of Lisbon and its history. A picture and history should be seen as narrative forms giving meaning to diffuse experience, and should not be naively opposite to a conjectured reality. Chroniclers and travelers from the 15th century painted the picture of a Lisbon that had not yet been announced as the heart of navigation to the East and West, though it was soon to be defined as such by the chronicler Damião de Góis in the 16th century, followed by foreign travelers, despite the fact that it had already been heralded as the "greatest city and center of Portugal”.